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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

UMA FESTA TRADICIONAL

São João foi áspero pregador, degolado na Palestina aí por volta do ano 31 de nossa era. De noite, comemora-se o São João com farta alimentação, dança, bebidas, adivinhações para casamento e morte, e acendem-se fogueiras, e soltam-se balões, e tocam-se fogos de artifícios, bombas, traques, e dançam-se quadrilhas. Festa tradicional na Europa, notadamente em Portugal, e no Brasil, aonde chegou trazida pelo descobridor lusitano.

Conta a tradição que o santo ilustre adormece durante o dia, no seu aniversário natalício. E à noite, ao enxergar o clarão do fogaréu aceso para homenageá-lo, desde dos céus e acompanha a oblação popular.

Já na Europa, em tempos recuados, se acendiam nos lugares altos e nas planícies grandes fogueiras, em redor das quais se dançava com as alegrias do anúncio de colheitas abundantes. O fogo era o símbolo da afugentação da fome e da miséria. No Brasil, houve o entendimento de que serviam as fogueiras para que se aquecessem os friorentos, no mês de são João, mas pesquisas folclóricas demonstraram que os camponeses iam e vinham por cimea do braseiro infernal com o sentimento da purificação da alma.

Interessantes as manifestações folclóricas. Elas voam, são peculiares a todas as comunidades. Lendas da Ásia, estórias do mundo inteiro estão vivas no espírito dos sertanejos nordestinos. Caracterizam-se pela universalidade as petas dos caçadores, as facécias de mentirosos vulgares, a gratidão dos bichos, os contos de lobos e de onças e de fantasmas. A brincadeira do dedo-mindinho vigora na Bretanha rica de depoimentos desse eu espiritual das gentes, de força intensa, extraordinária, contagiante, a ponto de se estabelecer que aqui e ali o folclore tem variantes, para que, ao cabo de contas, seja um só.


A. Tito Filho, 17/07/1989, Jornal O Dia

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