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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

LEGENDAS E TÍTULOS

Os jornais que circulam de manhã são feitos de noite e o trabalho avança até a madrugada. Natural que se verifiquem cochilos, pois o cansaço alcança os que operam nas máquinas, na diagramação e na revisão, provocando-se de vez em quando troca de títulos e de legendas nas fotografias. Também se alteram nomes nos artigos e nas reportagens. Faz poucos dias nesta coluna escrevi PRÉSTITOS CARNAVALESCOS e saiu PRESTÍGIOS.

Num domingo recente, famoso colunista social de Teresina noticiou o aniversário da idosa matrona e da elegante e bonita Alcília Afonso. Trocaram-se as legendas. No retrato de Alcília saiu o nome da matrona aos seus setenta anos, e no retrato da matrona imprimiu-se o nome de Alcília.

Estava-se em 1942. Getúlio Vargas governava o país com mão de ferro. havia criado o Departamento de Imprensa e Propaganda, conhecido pela sigla de DIP, encarregado de fiscalizar a imprensa e fazê-la arrolhada, debaixo de severíssima censura. Os jornais e revistas que se desviassem das normas ditatoriais, poderiam sofrer punições insolentes, que iam da suspensão de atividades à intervenção e ao fechamento. O grande "O Estado de São Paulo" passou a circular sob exclusiva orientação do governo, afastando-se os proprietários e os diretores das funções respectivas. Só em 1945, com a queda de Getúlio, o órgão voltou à situação anterior de liberdade.

Na época, o "Correio da Manhã", fundado pelo combativo Edmundo Bittencourt, circulava no Rio de Janeiro, fiscalizado pelos censores. Nele trabalhavam conhecidos adversários da ditadura, sem que pudessem manifestar as suas idéias. No auge do regime de força getulista, o jornal publicou duas notícias uma sobre uma exposição de porcos de raça, outra sobre a atuação de Osvaldo Aranha, um dos mais fiéis servidores ditatoriais, no Ministério das Relações Exteriores. As duas notas de reportagem estampavam fotografias ilustrativas: debaixo do Ministro saiu O PORCO PREMIADO. Debaixo do suíno - O MINISTRO ARANHA. Quase se fechava o jornal.

Dia 14, nesta coluna, publicaram-se dois artigos um meu e um do professor Cunha e Silva. Mas se trocaram os títulos. O meu era ENTIDADES CULTURAIS, o de Cunha - PROTESTOS VÃOS. Cochilos.


A. Tito Filho, 16/04/1989, Jornal O Dia

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