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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

PARACATU

Neste canto de página escrevi certa vez que as cidades têm alma, jeito próprio de ser e de parecer. Nunca são iguais. Cada qual com o seu encanto e sua fealdade. Existem cidades fumegantes, tortas, alinhadas, notívagas, mortas, monótonas, ociosas, hospitaleiras, desconfiadas, cada uma tem a sua alma. John dos Passos, escritor norte-americano, no PARALELO-42, romance, fez a apresentação das grandes cidades do seu país, como Boston, Nova Iorque, Filadélfia, Baltimore, Chicago, Detroit e outras, e ofereceu uma impressão do trabalho do povo e dos seus problemas sociais e morais. As grandes cidades do mundo inteiro se parecem nas aflições que padecem. Constituem centros de comércio e cada dia pioram as suas condições de tráfego, policiamento, segurança, água, luz, transporte, lixo. Simbolizam poder e malogro.

As pequenas cidades, enfeitadas da igrejinha, do bom dia aos que transitam, cada qual no seu relativo conforto, ritmo lento de vida, crianças nas brincadeiras inocentes, população de classe média, inexistência de problemas coletivos, existiram no passado ainda próximo, mas a pouco e pouco cresceram, pois tiveram o desejo de ser grandes e passaram a ter fábricas, comércio bem desenvolvido, profissionais de todo tipo. Historiador sério dos municípios mineiros, homem de letras e invulgar capacidade d e descrever e de narrar, culto e leal às manifestações da inteligência. Oliveira Mello, nascido em Paracatu, no interior de Minas Gerais, fixa, em "Vozes do Tempo", as memórias da sua cidadezinha natal: "Paracatu acabou! Justamente a da minha infância. Hoje, encontro ruas asfaltas, manhãs barulhentas, acordadas pelas vozes das sirenes. As estradas mudara, de fisionomia. O asfalto, com seu lápis cinzento, riscou o sertão verde. As falas são outras. Paracatu acabou".

E continua o bom criador de saudades a evocar cousas antigas como se fossem peças líricas do passado, numa linguagem de bonitezas e louçanias, compondo quadros de ternura guardados na memória.

A civilização industrial destrói até a alma das cousas que deveriam ser eternas.


A. Tito Filho, 19/04/1989, Jornal O Dia

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