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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

PIAUÍ

O Piauí nunca passará de Piauí. Aqui as gentes são egoístas, doentes, uns doentaços do tamanho deles mesmos. Nunca vi que aqui se incentivasse ninguém. Parece casa de raparigas ordinárias que vivem se azunhando de inveja dos machos.

A última de certos príncipes da sabedoria se volta para dois homens públicos de valor - Hugo Napoleão e Alberto Silva, vitoriosos na vida por força da inteligência trabalhada e que ajudaram o desenvolvimento cultural deste Piauí pilheriante. Ambos ingressaram na Academia Piauiense de Letras, normalmente eleitos, com mais títulos do que certos cultores de poesia que se fabricam às toneladas e ninguém lê por estes brasis dignos de sorte menos cotó.

Hugo e Alberto sabem dizer o que pensam, o primeiro militou anos a fio no jornalismo e dedicou-se a pesquisas históricas com o melhor senso de responsabilidade. Alberto, engenheiro criativo, promotor de obras culturais que honram a sua terra, de apurado bom gosto crítico, cultor da música, íntimo dos grandes artistas clássicos - os dois mereceram o premio acadêmico e deviam merecer aplausos sobretudo dos moços por eles ajudados em todas as circunstâncias.

Não são analfabetos. Estudaram e venceram. Se não possuem obra volumosa publicada, naturalmente não se voltaram de modo exclusivo para o cultivo das artes literárias. Mas literatura não se resume em poesia e ficção. Assim não existiriam Rio Branco, Nabuco, Rui Barbosa, nem Cristo, que rabiscou na areia e ainda hoje não se desvendou a rabiscação do Messias. Se as Academias de Letras só abrigassem poetas e romancistas, cronistas e contistas, Santos Dumont, inventor, Getúlio Vargas, político, Lauro Müller, engenheiro e chanceler, José Honório Rodrigues, historiador, nunca se sentariam nas poltronas da casa de Machado de Assis. E fora da Academia Piauiense de Letras estariam Celso Barros, Raimundo Santana, Gabriel Baptista, Clidenor Freitas e tantos outros.

Deixemos de rabugices, de deselegâncias, de pequenezes. Incentivemos os trabalhos alheios. Apoiemos o esforço dos irmãos. Sejamos grandes, pois só assim arrecadamos respeito e admiração.

Na Academia Piauiense de Letras não existe um único analfabeto. E quantos analfabetos existirão no Sindicato dos Jornalistas do Piauí, uma vez que lhes faltou oportunidade de estudo e de aperfeiçoamento?

Demais de tudo homens educados para a vida não podem ignorar os princípios que norteiam as instituições alheias. A Academia Piauiense de Letras pode eleger para os seus quadros todos aqueles que se têm projetado em qualquer ramo do saber humano.

Coitado do Piauí. Os seus melhores filhos são os que mais o esculhambam.


A. Tito Filho, 06/01/1989, Jornal O Dia

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