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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

GENTE E HISTÓRIAS

O Visconde da Parnaíba provocou um romance histórico admirável, sério, verdadeiro, em que se misturam por vezes criaturas reais e irreais, mais aquelas do que estas. Quem conhece os fatos da vida e o caráter de Manuel de Sousa Martins (Mané de Sousa - Né de Sousa) e a sociedade patriarcal da sua época, retira do livro a impressão correta de que José Expedito Rêgo representa um dos mais profundos doutores na história humana e social de Oeiras. E desfilam neste romance o nascimento do futuro Visconde da Parnaíba, na Serra Vermelha, fazenda de gado de Né Martins, pai de Né de Sousa - e no principio são os hábitos e costumes: as parteiras e o uso da manteiga caseira para facilitar a saída do menino pelo caminho natural da mãe. O transporte de cadeirinha. As brincadeiras de fazer curral. O gado, boi e vaca, como riqueza, cabedal, e a casa e a gente vivendo do gado e para o gado. A solidão das viagens a Capuame, na Bahia, a feira de reses machos, o dinheiro, a troca. A escola antiga e seus métodos. A comida pesada. O vaqueiro Né de Sousa e o casamento do próprio. Os primeiros filhos. A inutilidade sexual da esposa e a amigação com Sebastiana, cabocla fornida, boa de cama. E a sucessão de outros amancebamentos. As rodas nas calçadas da cidade. Padres amigados. As práticas religiosas. Sexta-feira da paixão e os preconceitos não permitiram que Né de Sousa possuísse a amante. Ela refugou o sexo. Os folguedos juninos. O educador Padre Marcos, conselheiro de Né de Sousa. A visita de Spix e Martins. Os primeiros passos para a independência do Piauí. Junta de governo. Começa a subida de Né de Sousa. Em seguida, a derrota eleitoral. A chegada de Fidié, comandante das armas portuguesas na Capitania, a viagem a Parnaíba, para sufocar o movimento de Simplício Dias, o regresso, a carnificina do Jenipapo. Antes, Manuel de Sousa Martins proclama a Independência de Oeiras, 24 de janeiro de 1823, e toma conta do governo. O atentado a bala por desejar a mulher do próximo, contra Né de Sousa, que escapa ileso. Visita do botânico europeu Gardner à antiga capital. A guerra dos balaios. A morte de Manuel Clementino, o afoito Clementino, nos campos de batalha. O assassinato do péssimo vigário Quintino e do mandante do crime, um capitão chefe da polícia. Né de Sousa, de batismo Manuel de Sousa Martins, torna-se barão e visconde da Parnaíba. Vem o declínio do incontestável líder político - e finalmente a queda. Quando propalaram que Saraiva mudaria a capital para uma nova cidade, às margens do Parnaíba, ninguém acreditou no boato. Só Né de Sousa, doutor em experiência com os homens, creu: - Saraiva, disse, está com o poder.


A. Tito Filho, 11/04/1989, Jornal O Dia

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