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terça-feira, 16 de agosto de 2011

ADMIRÁVEL PEDRO

Pedro Brito dá-nos segura impressão de ter vivido infância feliz, despreocupada, alegre, na prática dos brincos próprios de cidade interiorana - um menino com os de outros lugares iguais, em que a garotada não possuía velocípedes ou bicicletas, nem balão de couro. Brincava-se em cavalo de cabo de vassoura ou montando carneiros pintados de cor agradável.

Quando veio ao mundo, nos anos 80 do século XIX, encontrou os pais financeiramente remediados. Poderiam ser ricos, mas as atividades políticas do cônjuge varão gastaram um bocado de dinheiro. Sente-se, porém, que Pedro obteve sempre o afeto dos genitores, que lhe davam o apoio e segurança. O velho transmitiu-lhe as primeiras letras, época de escolas de lições de latim - do latim científico, declinado, as desinências funcionando como termos sintáticos, tipo de língua que Cícero lia nas justas oratórias, mas não ousava falar aos familiares. Ou porque fosse difícil reproduzi-lo corretamente nas peças do discurso ou porque os ouvintes não pudessem entendê-lo. Talvez tenha sido essa aprendizagem da língua-literária romana responsável pela espantosa memória do fedelho descontraído e irrequieto da velha capital do Piauí, Oeiras. Achamos que o lar oeirense o fez amoroso com a constelação familiar que principiou a constituir em 1906. Para ele, no correr da vida, a mulher, os filhos, os netos valiam a imensa riqueza do seu espírito nobre e valoroso.

Qual o segredo maior desse homem admirável, sem ódios, sem medo, sem malquerenças, mas constantemente contrariado nos seus anseios mais dignos? Corajoso, sentimental e bom. Decente com o semelhante. Leal aos amigos. Não merecia a adversidade como companheira constrangedora o tempo todo. Que mal o seu? Nenhum. Apenas não bajulou para não azinhavrar a consciência. Nem esmoreceu no dever da luta para não desmerecer.


A. Tito Filho, 11/01/1989, Jornal O Dia

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