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terça-feira, 23 de agosto de 2011

VESTIBULAR

Por todo o Brasil, milhares de jovens de ambos os sexos se inscrevem nos exames vestibulares das universidades, em busca do cobiçado título de doutor ou cousa que o calha. Neste país se assentou o preço do triunfo num anel de grau. E haja anel de grau para todos os dedos como se ele conferisse mercado de trabalho para tantos, cuja ambição única consiste no doutoramento, quase sempre sem horizontes.

Criou-se no Brasil a mística da universidade. Ou o jovem conquista a aprovação no vestibular, ou passa a viver angustiantemente, como se fosse marginal. E teima e reteima. Tudo começa com os cursinhos e há mais cursinhos neste país do que vagas universitárias.

A verdade é que a juventude nacional não estuda, não lê. Freqüenta cursinhos. Não se diga que os cursinhos sejam nocivos. Pelo contrário. Bem ou mal, procuram realizar o seu trabalho preparatório. Mas neles se matriculam jovens na grande maioria despreparados. Justamente porque foi péssimo o estudo secundário feito nas escolas.

Recebe o candidato a vestibular o respectivo programa fornecido pela universidade. Tais programações, as mais das vezes, são mal orientadas, concebidas nos gabinetes dos técnicos, com muito conhecimento de teoria e sem nenhuma capacidade para interpretar a vida e seus processos culturais.

Jornais, revistas, cursinhos, professores publicam e ensinam respostas a numerosas questões em forma de teste, com uma escolha entre quatro ou cinco oferecidas. E passam os candidatos a viver alguns meses de verdadeira tormenta de memória. Fazem consultas por toda parte e a toda gente. De modo geral, esses testes universitários constituem quebra-cabeças, e moços e moças gravitam, dia e noite, em torno deles.

Que nome adotou o atual papa?

Em seguida alinham vários nomes: Rui Barbosa, João Paulo II, Edison Arantes do Nascimento, Dom João VI e Pedro Álvares Cabral.

O candidato não sabe o nome do papa atual, mas certamente sabe que Rui Barbosa, Dom João VI e Pedro Álvares Cabral já morreram. Que Edison Arantes do Nascimento é o Pelé. Então João Paulo II, claro, cruz nele. Acertou. Salvou-se o Brasil. Mais um futuro doutor, de borda e capelo.


A. Tito Filho, 13/07/1989, Jornal O Dia

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