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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

TEATRO

Como teatro, o 4 de Setembro desempenhou o papel que lhe coube na marcha do tempo até certo tempo. Assim, durante muito tempo nele não se interpretam peças que representassem retrato realista da sociedade, mas comédia para rir, ou dramalhão para chorar. O vilão era sempre derrotado, os amantes sempre se uniam num final feliz. Ninguém meditava em função dessas peças.

Houve em Teresina apresentação do teatro de Martins Pena, que alguns entendem como crítico de costumes, mas que julgo registrador de costumes; de Joaquim Manuel de Macedo, mau comediógrafo, e de França Júnior, de real veia cômica.

O 4 de Setembro acompanhava a marcha do teatro nacional: comédia e drama, farsa e dramalhão. Não se livrou do dramalhão "Deus lhe pague", de Joracy Camargo, depois de 1930.

Em 1938, Paschoal Carlos Magno criou o Teatro do Estudante, que só chegaria ao 4 de Setembro em 1952 - quando o prédio já era um inferno, no dizer do próprio Paschoal.

A partir de 1942, renovam-se cenários e textos do teatro nacional. O polonês Ziembinsky organiza "Os comediantes". Nélson Rodrigues, oito anos depois, torna-se desbravador - precursor do teatro moderno, do teatro brasileiro. Leva para as suas peças a patologia individual e familiar, o marginal e homossexual. Surge Jorge de Andrade e a temática psicossocial de Pedro Bloch. E o teatro infantil. O ciclo nordestino do fanatismo ("Pagador de Promessas"), do cangaço e do coronelismo ("Auto da Compadecida”), da pobreza e do abandono ("Morte e vida Severina"): Antonio Dias Gomes, Suassuna, João Cabral de Melo Neto.

Na década de 60, grupos teatrais novos. Montagens abertas, livres (arena). Reestudo da história. Em 1968, Plínio Marcos invade o bas-fond.

O Brasil continua a bater palmas a Moliére, Shakespeare, Sófocles, Brecht, Corki, Camus, Pirandelo, Casona, Lorca, Claudel.

No Piauí, nada. Paschoal Carlos Magno com os clássicos gregos em 1952, Plínio Marcos uma vez, uma vez Pedro Bloch - e aqui e ali o grande esforço da gente de casa, escrevendo peças, interpretada por amadores noutros salões, pois o 4 de Setembro cada dia mais oferecia péssima condição de sujeira e fedentina ao público que lá não ia.

Agora o palco foi arrumado. Caprichosamente arrumado. Surja o teatro de interpretação, o teatro educativo. Teatro é educação.


A. Tito Filho, 13/08/1989, Jornal O Dia

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