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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

POLÍTICA

Antigamente era melhor. Havia xingamento, grande paixão, mas os homens possuíam muitas virtudes. Participei da campanha presidencial de 1945, com os candidatos Eduardo Gomes, Eurico Dutra e mais uns três, inclusive o do partido comunista. Não existia televisão no país. Os pleiteantes compareciam em exaustivos comícios de praça pública, em que se comprimiam as multidões ululantes. Era entusiástico. Votei em quem não venceu, mas contribuí com um voto, o meu, para a eleição de Carlos Prestes como senador do antigo Distrito Federal, o Rio de Janeiro. No pleito seguinte, fui vitorioso. Ajudei Getúlio Vargas, o futuro suicida de 1954. Outra vez pude escolher entre Juscelino, Juarez e Ademar de Barros. Ganhei com o primeiro. No pleito seguinte, Jânio Quadros se elegeu. Nele votei.

Sou dos brasileiros de uma geração maltratada. Poucos anos depois do meu nascimento, sucedeu o movimento militar de 1930, que deixou o país sem eleição presidencial direta até 1945, com a circunstância de que, durante quinze anos, houve uma única eleição para deputados federais e estaduais. Os senadores e governadores foram escolhidos por assembléias estaduais, em 1935. Uma joça de nação, pois depressa se deu o golpe quartelesco de 1937.

Jânio renunciou. Empossou-se João Goulart na presidência, sob regimento dito parlamentarista, que o povo derrotou num plebiscito. Em 1964, um movimento militar derribou o presidente e em poucos dias os generais se revezaram no exercício das funções por cinco períodos ditos mandatos. Nesse longo tempo poucas vezes se deu ao brasileiro a oportunidade das urnas.

No dia em que a República completará o seu primeiro século  de altos e baixos, os patrícios deverão escolher um mandatário presidencial por cinco anos. Inscreveram-se mais de vinte candidatos, a metade dos quais gente desconhecida do chamado grande público. Quase todos, entretanto, sem domínio da língua pátria, péssimo português, hábitos de linguagem em polimento, o que não convém ao elevado cargo.

Despem-se também de idéias e apegam-se a chavões. Salvam-se poucos pelo ideal de luta e vida correta.

No meio da cousa, uma mulher, que fala piscando durante uns trinta segundos dizendo tolice.

Dos praticantes desconhecidos do povo, salva-se Celso Brandt, de linguagem apurada e criticas acertadas ao regime de exploração dos Estados Unidos.

Ao cabo de contas, o vergonhoso episódio Silvio Santos.

Tenho vontade de deixar o Brasil e ir-me embora para Nossa Senhora dos Remédios.


A. Tito Filho, 05/11/1989, Jornal O Dia

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