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domingo, 21 de agosto de 2011

PEDRO BRITO

Pelo fim do século estabeleceu-se em Teresina. Destinava-se a estudos ginasianos no Liceu Piauiense, único educandário oficial da terra. Adolescente, tinha uns 15 anos, mas altivo, como soem ser as personalidades normais nas diversas fases da vida. Teve no professor, José Joaquim de Morais Avelino (Casusa Avelino) o primeiro descontentamento. De modo geral os mestres brasileiros desconheciam o valor do afeto e da compreensão como processo educacional. Tornava-se intolerantes às atitudes da adolescência e repudiavam os arroubos da mocidade. Cada professor considerava a sua disciplina a mais importante nos estudos. Tempos tristes do magistério secundário, que ainda alcançamos em 1951 e anos seguintes, quando os lentes puniam os alunos, humilhando-os, e levavam para as aulas angústias pessoais, nervos abalados, problemas de família e raiva de quebradeira. Por ignorância das respostas, indeferiam perguntas dos discipúlos. Havia os de lições fraudulentas, correndo os olhos por papéis escondidos na palma da mão. Dias condenáveis do magister dixit, dos que liam alguma coisa de noite e arrotavam na manhã seguinte, orgulhoso do pecado contra a inteligência alheia. Além destes, os sádicos das reprovações e os embromeiros. Ainda hoje há muitos assim. É pena.

Casusa Avelino tinha competência na matéria que orientava, aritmética. Artista da pintura, muito aplaudido. Homem sério e respeitável. Desconhecia, como ainda agora, que ninguém, senão os anormais, podem armazenar a universidade do saber. Daí por que se criou a especialização. Nem os mestres sabem as 8, 9, 10, 11 e 12 disciplinas de cada série dos cursos ginasiais, seja no Piauí, seja no Rio Grande do Sul. Os colégios, entretanto, entretanto, exigem que os insocorridos estudantes escrevam ou repitam as lições de improviso e as que se transformam, para suplício dos pobres meninos, na enrolação dos deveres de casa. Em certa época se estabeleceu nota mínima para cada matéria e nota de conjunto de maior valor, para que se respeitassem as tendências dos estudantes, pois há os que aborrecem determinados estudos mas apreciam outros. Neste ponto se recorda que a antipatia do educando com uma ou outra, disciplina decorre as vezes dos métodos rançosos de professor, que não sabe ensinar, ou que não sabe o que pretende ensinar ou que antipedagogicamente se vale de xingações humilhativas.


A. Tito Filho, 12/01/1989, Jornal O Dia

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