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sábado, 20 de agosto de 2011

O VISCONDE

Manuel de Sousa Martins, futuro visconde da Parnaíba, censurou o movimentos dos parnaibanos, com a proclamação da independência de 19-10-1822. Achou-o precipitado. Lançou à sua culpa a sangueira do Jenipapo. Abdias Neves acredita que aquele foi o momento histórico do rompimento. Outro teria sido o destino do norte sem a iniciativa dos parnaibanos. Portugal sabia que o Piauí constituía magnífico ponto estratégico para o ataque a outras províncias. O Piauí exportava o gado consumido em Pernambuco, Ceará e Bahia. Houve até o alvitre de que Maranhão, Piauí e Pará formassem um Estado subordinado a Lisboa. Os acontecimentos de Parnaíba alteraram tal plano.

João José da Cunha Fidié foi militar honesto, puro e disciplinado. Inflexível. Nos episódios da independência no Piauí lhe são atribuídas falhas táticas: haver partido da capital com toda a tropa e material de guerra, para dar combate ao movimento da Parnaíba, onde muito repousou depois de saquear a cidade. Nada combateu. Quando soube da rebelião em Oeiras, quis retornar à capital, mas foi obrigado a travar a batalha do Jenipapo. A ida para Parnaíba foi erro grave com o abandono de Oeiras, sede de governo, sem elementos de resistência. Segundo erro, a demora em Parnaíba. Os independentes enfrentariam incalculáveis dificuldades se Fidié se aquartelasse em Campo Maior ou se tivesse regressado, sem perda de tempo, a Oeiras, logo que soube que os independentes da Parnaíba se haviam refugiado em Granja. O movimento da Parnaíba não tinha raízes populares. Ainda assim, Fidié constitui grave risco para a unidade brasileira.

De tudo se verifica que o Piauí não aderiu à independência. Construiu-a. Neste ponto, há necessidade de revisão de livros de história pátria, notadamente os didáticos, em que deve ser incluído o esforço piauiense na luta de emancipação.


A Tito Filho, 11/04/1989, Jornal O Dia

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