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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A VELHA TERESINA

Ainda em 1952, época do primeiro centenário da cidade, Teresina padecia tristíssimas condições de conforto, em todos os sentidos. Péssimo calçamento das ruas, ausência de higiene, falta de escolas, mendicância generalizada. Chegaria, porém, o chamado progresso físico, o asfalto, os aviões a jato, o comércio de prestações, os restaurantes sofisticados, o carro financiado, a casa do BHN, a televisão, o jornal moderno, a civilização da lancheira, o supermercado onde as matronas compram frango depenado. Nos velhos tempos as senhoras carrancudas só compravam galinhas soprando-lhes as penas e lhes apertavam o bico a ver se o gogo escorria. Os bons cabarés da Paissandu desaparecem, substituídos por motéis e gramas de praças.

De trinta anos para cá a cidade mudou muito. Desespiritualizou-se. Tem no dinheiro o status e o conforto material repousa em dívida. Vigora o cheque sem fundo. Por onde anda o pega-pinto que ajudava a fazer pipi? Teresina possui contrastes aviltantes. Jóquei e Itararé. Mansão e casebre. Morreram hábitos bons. Surgiram universidades e hoje se fabricam doutores para o desemprego.

Garotas ricas se desnudam ao lado das ruas que não têm com que cobrir as suas vergonhas.

Mas Teresina reencontrará o bom caminho. Cada dia fica mais bonita em graças construídas pelas mãos do homem. Os seus intendentes e prefeitos cada qual tem melhorado, dentro das suas possibilidades, os aspectos da criatura de José Antônio Saraiva.

É necessário lutar pela humanização da cidade. Fazer que ela retorne à vida espiritual de antigamente. Enquanto a gente pensar assim, Teresina será sempre um instante de beleza no coração dos que a amam.


A. Tito Filho, 17/08/1989, Jornal O Dia

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