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terça-feira, 30 de agosto de 2011

AINDA VESTIBULAR

A mania nacional tem sido reformar o ensino. Cada ministro, uma reforma. Sem recuar muito no tempo, na década de 30 o brasileiro tinha um ginásio de cinco anos. Terminado este, submetia-se a exames para as faculdades, caso quisesse. O ministro Francisco Campos bolou uma reforma, séria, de que abaixo se tratará.

Estando ministro, Gustavo Capanema implantou nova reforma: quatro anos de ginásio, três anos de cientifico ou clássico. Concluídos, o jovem buscava, se lhe apetecesse, os exames de ingresso nas escolas superiores. A reforma Capanema, ela mesma, teve acréscimo e supressão de disciplinas. Nela meteu-se o espanhol, dela tirou-se o espanhol. Depois, chegaria a vez a abolir o francês. Introduziram-se organização social e política do Brasil e educação moral e cívica. E assim por diante, até que a estudantada desembocou na reforma Jarbas Passarinho, com a ensinança do primeiro e do segundo grau, ora em vigor. Ensino profissionalizante mas ninguém vai nessa profissionalização, porque todos querem o anel de doutor, mesmo sem mercado de trabalho.

A melhor reforma do país, foi de fato, a do ministro Francisco Campos. Cinco anos de ginásio, para a base humanística. Em seguida, o futuro profissional definia-se por um dos três ramos de preparatórios: o pré-jurídico, o pré-médico ou pré-técnico.

O pré-jurídico, por exemplo, era constituído de disciplinas necessárias ao bacharel em direito: estudavam-se biologia, sociologia, economia política, higiene, história da filosofia, literatura, latim - e assim o estudante ingressava na faculdade com excelente soma de conhecimentos. Antes do ingresso, havia o vestibular, não o vestibular de testezinhos, mas o de provas escritas em que realmente se podia mostrar competência.

Nos tempos de hoje se diz que a guerra do vestibular parece mais terrível do que a guerra entre árabes e judeus, pois esta é uma guerra de violentos choques e a do vestibular se torna guerra psicológica, donde os vencidos promanam frustrados, como se estivessem marginalizados do processo social brasileiro.


A. Tito Filho, 15/07/1989, Jornal O Dia

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