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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O LICEU - II

O Liceu, como hoje, era de ensino misto - moças e rapazes. Pois ali nasciam os primeiros namoricos, de muito platonismo. Mas havia a turma dos devassos, que, entre outras práticas, amarravam um pedaço de espelho no bico da botina e o colocava por baixo da saia da garota descuidada, nos instantes de recreação pelos corredores, intervalos das aulas. Pelo menos o sem-vergonha conseguia enxergar as calças internas da menina, umas calças que vinham até a metade da coxa e eram abotoadas de lado. Descoberta a sem-vergonhez, o tarado levava tapona da vítima e pegava severa suspensão.

Tempos bons, tempos que não voltam. E tempos de estudo de fidelidade aos livros, de aulas sérias, de mestres competentes. Aprendia-se.

Muito me recordo do meu diretor no edifício novo - João Pinheiro, um dos fundadores da Academia Piauiense de Letras, cultura primorosa, contista, poeta, historiador, estudioso e sabedor da língua portuguesa, de cujos clássicos era íntimo. Austero. Criterioso. Deixou com o Piauí exemplos de trabalho numa inapagável obra educativa. E outros mestres consagrados me umedecem os olhos de recordações constantes: padre Joaquim Nonato, Martins Napoleão, Domingos Castelo Branco, Fumia Tajra, Benjamin Batista, monsenhor Cícero Portela Nunes, Júlio Antônio Martins Vieira, Edgar Tito de Oliveira, Nódgi Nogueira, uns vivos, outros mortos...

Tive mais duas grandes experiências com o meu querido Liceu: as de professor e diretor, fases de minha humildade sobre que mais tarde escreverei. Conforta-me que ainda agora o velho estabelecimento prossegue a sua obra de mais de século, a de educar, preparando gerações para a vida, para a afirmação social do indivíduo.


A. Tito Filho, 08/08/1989, Jornal O Dia

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