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domingo, 28 de agosto de 2011

EM TESTEMUNHO DA VERDADE

Deu-se que eu já era estudante no Rio de Janeiro, quando, em fevereiro de 1945, o sincero José Américo de Almeida, numa entrevista, estremeceu a cansada ditadura de Getúlio Vargas.

Tive, na velha capital, boníssimos companheiros de pensões estudantis e de Largo do Machado, local do Café Lamas, recanto pitoresco da estudantada de faculdades superiores de ensino, que aí madrugava nos alegres bate-papos em torno da vida provinciana distante ou dos acontecimentos da terra carioca, a exemplo de Tibério Nunes, Petrarca Sá, Fenelon Silva.

Residi, certa fase, com Espedito Resende, hoje figura das mais conceituadas da diplomacia brasileira, no mesmo aprazível hotelzinho da rua Haddock Lobo, na Tijuca.

Nesse referido e emocionante 1945 surgiram, após oito anos de totalitarismo caboclo, novos partidos políticos, de caráter nacional, e marcaram-se eleições presidenciais e constituintes. Em abril, morreu Roosevelt. Maio, no inicio, houve o fim da guerra na Europa. Entre junho e julho, participei de duas numerosas comitivas de estudantes que acompanharam o brigadeiro Eduardo Gomes, o candidato anti-Getúlio à presidência, nas visitas a São Paulo e Belo Horizonte. Na primeira cidade, pouco entusiasmo, mas na outra os mineiros demonstraram disposição e coragem cívica.

Inaugurou-se o processo atômico com as bombas sobre Hiroxima e Nagasáqui. No Recife, assassinaram o jovem líder Demócrito de Sousa Filho, efetivando-se o tumulto de violentas paixões partidárias. Derribou-se o governo Vargas em outubro. E a 2 de dezembro os moços de pouco mais de vinte anos, como eu, pela primeira vez escolhiam nas urnas o primeiro mandatário do país, os deputados e os senadores incumbidos da feitura de nova constituição republicana. Venceu o prélio presidencial o militar do Exército Eurico Gaspar Dutra, derrotando Eduardo Gomes, Yedo Fiúza e o quase desconhecido Mário Rolim Teles.

No meu longínquo Piauí a campanha política dividia governistas e oposicionistas da forma que fossem inimigos ferrenhos e figadais. Mostrava-se virulenta a linguagem dos comícios de praça pública e dos dois jornais a serviço dos lutadores. A gente tinha ciência dos episódios familiares e pelas colunas jornalística - e no órgão "O Piauí", editado duas vezes por semana, militavam as penas vigorosas de Eurípedes de Aguiar, Simplício Mendes, Esmaragdo de Freitas, Arimathéa Tito, os dois primeiros com mais de 60 anos de idade e os dois últimos com quase sessenta.


A. Tito Filho, 14/10/1989, Jornal O Dia

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