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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

CAÇADOR

Em Feira de Santana, o campeonato local das mentiras referentes a caçadas pertencia a dois indivíduos, pai e filho. Diferenciavam-se nisto: o pai contava coisas estupefacientes, mas com quê de verossimilhança; ao passo que as narrativas do filho revoltavam pelo cinismo do apregoamento de fatos impossíveis, impingidos como autênticos. Com uns estrangeiros, hóspedes do hotel Camilo, os campeões da pêta venatória conversavam, quando o mais velho, isto é, o pai informou:

- Aqui perto da cidade, tem uma lagoa que tem marreca por peste. Outro dia, com a minha espingarda espalhadeira de chumbo, dum tiro só que dei matei dezesseis marrecas...

- E um macaco! Interveio o filho mentiroso.

Os estrangeiros entreolharam-se surpresos, mas o velho não desanimou:

- Sim, e um macaco! Esse macaco vinha passando, na ocasião, por cima de um lance de cerca que tem no meio da lagoa.

Com essa, os estrangeiros deram o fora, cochichando, sorridentes. então, o velho intimou o filho:

- Você perca esse costume de me ajudar em história que eu estiver contando! Você é burro? Você já viu macaco dentro d’água? Só eu sei o trabalho que eu tive pra botar aquele lance de cerca dentro da lagoa!

Esta estória foi contada por Leonardo Mota, uma das melhores expressões da literatura cearense, que visitou a Academia Piauiense de Letras faz muitos anos.


A. Tito Filho, 15/04/1989, Jornal O Dia

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