Quer ler este texto em PDF?

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

REFLEXOLOGIA DO NU

Por toda parte o sexo se confunde com a paisagem, para anúncios de produtos comerciais através de um processo de condicionamento, de reflexos. Revistas, jornais, boletins de propaganda, cartazes, envoltórios dos mais diversos objetos - de automóveis, de sabonetes, de televisão, de rádio, de pente, de viagem, de perfume, de pó-de-arroz, de brilhantina - tudo, enfim, estampa de mulheres seminuas, quase nuas, nádegas descobertas, seios perfurantes à custa de látex, suéteres colados para maior realce de pontos e lugares e saliências provocantes de sensualidade. Peças intimas femininas são deliberadamente expostas em vitrinas e nas páginas das publicações brasileiras. Realça-se a beleza do busto, e o busto, à custa dos acolchoamentos, tornou-se fonte de concupiscência. Mulher cada vez mais mulher garota sexy será a que "tome banho de chuveiro sem molhar os pés...".

A propaganda necessita de ser olhada, vista, para que produza os seus necessários efeitos, na educação do brasileiro para a "filosofia de compra". E o método mais interessante de atrair atenções, nesse sentido, está em exibir corpos quase desnudos, ao lado dos produtos anunciados. Tem-se, por essa forma, o erotismo brasileiro cientificamente dirigido, ou o brasileiro subliminarmente dirigido para o erotismo. Consegue-se, por através do nu, a sexualização dos sentidos.

Também, para que mais se venda, instituíram-se os concursos de misses - e se promovem competições de escolha da mais bela estudante, da garota fotogênica, do broto "legalíssimo", da misse praia, da misse aeromoça, da misse-melhor-atriz, da rainha do carnaval, da rainha disto, da rainha daquilo - e cada vez "mais" se obriga a uma exibição em estado de nudez mais ou menos completa, como salienta o psiquiatra Cláudio Araújo Lima, e ao desfile de remelexos lascivos - ocasião em que a cupidez dos assistentes masculinos estrondeia em palmas demoradas para exaltação do nu...

Recorde-se que, há um ano, mais ou menos, sacerdote mineiro, no pleno gozo das prerrogativas clericais, vinha a público proclamar a necessidade da abolição do celibato dos padres. Em defesa do seu ponto-de-vista, alinhou algumas razões sérias - a de que os ministros católicos não podiam suportar, sem profundas repercussões psicológicas, a permanente convocação para o sexo que revistas, jornais, o cinema, a televisão promoviam por todas as modalidades e disfarces.


A. Tito Filho, 08/06/1989, Jornal O Dia

Nenhum comentário:

Postar um comentário