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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

SÃO PEDRO

As coletividades cristãs homenageiam, como dia santificado, os santos Pedro e Paulo, mártires da fé, ambos mortos num 29 de junho do primeiro século, ao tempo das inúmeras perseguições aos que acreditavam na mensagem de Cristo.

Pedro foi crucificado de cabeça para baixo; a Paulo concederam a decapitação.

A data, embora relembre o sacrifício cruel dos dois, tem merecido, através dos tempos, e tradicionalmente, manifestações festivas da alma popular, que dedica aos notáveis apóstolos veneração especial, mormente ao discípulo dileto do Enviado, o guardião da chave dos céus, o chaveiro vigilante da porta única de entrada na morada de Deus, o primeiro papa, fundador da Igreja - aquele Simão da Galiléia, de profissão pescador nos mares da paisagem natal, que, chamado pelo Mestre, o seguiu, na qualidade de companheiro de jornadas, para Dele ouvir:

- És Pedro (em grego, rocha), e sobre esta rocha construirei a minha igreja.

Padroeiro dos pescadores, humilde, Pedro participa do espírito das gentes com as virtudes da simplicidade e da boa-fé e espontânea credulidade, visíveis nas narrativas do Novo Testamento.

Crêem nele os modestos, os pobres, os desapercebidos de bens materiais, os desassistidos de luxo e de grandeza, os que vivem na fé retemperadora das forças, fonte de esperanças; suplicam-lhe graças os que almejam a tranqüilidade espiritual; dedicam-lhe estima e apreço os poetas - os que sonham com a paz do coração, como Catulo, que lhe dirigiu estes versos:

Indispus-me, senhor, com Santo Antônio,
E até com São João, que era meu guia,
Porque eu sendo pedrista, a toda prova,
Só festejava o vosso santo dia!

Viúva, a mãe do célebre porteiro celestial vivia de terra em terra, desassossegada, desvalida - e disto deriva a crença de que a viuvez encontra proteção no chefe dos apóstolos - e as que perderam o marido lhe pedem graças e atenções, para salvá-las da solidão e do abandono e das necessidades e - por que não? - dos preconceitos, pois a filosofia popular já assentou que marido numa casa, se para nada servir, tem ao menos serventia do ronco - demonstração da existência de homem sob o teto.


A. Tito Filho, 24/06/1989, Jornal O Dia

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