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terça-feira, 23 de agosto de 2011

MESTRE ODILON NUNES - I

As Pesquisas para a História do Piauí, de Odilon Nunes, em 4 volumes, revelam a saga piauiense, dos primeiros tempos até o fim do período provincial, uma saga com gosto e sabor de tragédia.

Do volume inicial constam a pré-história, os primeiros contatos com a terra, os primórdios da colonização e dos currais, a ausência de disciplina legitima e os governos que deram começo à vida politica.

A narrativa abrange os índios, a matança destes, a sangueira, o genocídio, as lutas sem fim, as sesmarias, o Parnaíba, riozão famoso, o território imenso de população e população escassa. Uma vez escrevi que a história do Piauí, no principio, está no pânico e no vácuo. Dias perigosos: o pânico. A volúpia mortífera das desgraças do meio: o vácuo. Odilon mostra e interpreta isso tudo. Neste ponto o seu extraordinário valor: a análise dos episódios, causas e consequências.

Domingos Afonso Mafrense e o xará Domingos Jorge Velho - sertanista e bandeirante - penetraram o Piauí com os seus troços de gente, e colonizaram terras, senhores de sesmas e de latifúndios, do gado bovino trazido e outras paragens. Sobre o primeiro não há duvida. Com o outro, o paulista, baita de homem severo e truculento, indicam alguns historiadores e dizem que não passa de lorota a sua vinda ao Piauí, donde teria saído para a matança dos Palmares, nas Alagoas. Odilon estudou detidamente o fato em mais de um trabalho, anotando referencias a bandeiras paulistas que agiam nos sertões do São Francisco, de 1671 a 1674: "Podemos assim presumir que Domingos Jorge Velho pertenceu a algumas dessas bandeiras a que nos referimos, se não fora mesmo o chefe de uma das partidas de paulistas que vinham operando nos sertões do São Francisco". Num livrinho rico de observações, o mestre sustenta, categórico, a respeito do paulista espadaúdo: "São múltiplas as provas da sua atividade no vale do Parnaíba".

Fim do século XVII. Admirável a ação dos catequistas. O Piauí torna-se cenário histórico empolgante. Já o bandeirante transmuda-se em curraleiro, encourado, nômade, solitário, individualista - são ensinamentos de Odilon. A riqueza era o gado e da rês se aproveitava tudo, a carne, os ossos, o tutano, bofes, cacos, couros, chifres, fezes, até o membro genital enorme. Em tudo o bovino: na panela, no cornimboque, nas liteiras, no gibão, nos arreios, em certos vasilhames de viagem, nas portas, nos calçados. Muitos falaram dessa civilização do couro.


A. Tito Filho, 24/08/1989, Jornal O Dia

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