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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

CANDELÁRIA

Faz anos mantenho cordial correspondência com Inocêncio Candelária, residente numa cidade paulista que não conheço mas que suponho simpática e muito dedicada, por através da inteligência dos seus filhos, à vida espiritual e às manifestações da cultura. Entre a sua gente generosa e afetiva vejo sempre Candelária, cujas crônicas me enlevam pelo calor humano, que irradiam para ensinar que os homens sempre são plenos de grandeza interior. Tenho impressão de que se trata de um amigo leal, devotado ao lar, conquistador de afeições sinceras, desafeito à inveja, de alegrias intimas com os triunfos alheios. Gosto das suas cartas, simples, amáveis, e do seu jeito feliz de querer bem aos outros. Poeta, não lhe falta a inspiração para compor poemas do melhor critério artístico. Lírico sempre. Tenho-o ainda na conta de um homem rico do ideal de justiça, como se vê do educativo trabalho "O Filólogo da Escola da Praça", que publicou em 1945, para contrariar o professor Silveira Bueno, crítico severo das construções literárias de Machado de Assis, no aspecto da pureza de linguagem.

Machado de Assis se despiu do verbalismo latino. Não se formou dos excessos temperamentais do mestiço, mas recusou a linguagem rebuscada e as figuras de retórica. Não se apegou ao descritivismo. Tem linguagem sóbria, discrição e equilíbrio. Nele, tudo, estilo e fala, tem sabor genuíno.

Para anular as acusações de alguns erros indesculpáveis, apontados por Silveira Bueno, mestre Candelária, depois de bem e fielmente pesquisar, destrói as acusações levantadas pelo censor e demonstra que Machado de Assis teve como patrono os mais respeitáveis cultores da linguagem elegante e correta.

Gostei do educativo trabalho do consagrado poeta e prosador, que tanto ilustre e com brilho a vida cultural de sua querida Mogi das Cruzes.


A. Tito Filho, 12/04/1989, Jornal O Dia

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