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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

AINDA TERESINA

Revi Teresina quase como a deixei cinco anos atrás. Ruas empedradas, poeirentas. Dois cinemazinhos de regular freqüência. Bares desconfortáveis. Velhos cabarés de rameiras célebres. Na moda ainda o Clube dos Diários. Casas residenciais quase todas iniciadas pelo corredor, ladeado de quartos de dormir e desembocando na sala de refeições. De modo geral os habitantes se conheciam. Já agora, entretanto, havia riqueza de odiosidades entre os adversários políticos.

Cheguei a casa, matei as saudades imensas dos velhos - e tive a notícia alvissareira: o povo votava no dia do aniversário natalício de Eurípedes de Aguiar. Quis logo visitá-lo para a satisfação de desejo longamente alimentado. E assim pratiquei.

Nesse dia 19 de janeiro de 1947, data dos 67 anos do vigoroso timoneiro da campanha eleitoral, os piauienses lhe conferiram o melhor presente: a vitória de Rocha Furtado para o governo do Estado.

Meu pai e Eurípedes muito se estimavam. As vicissitudes de vida e os deveres da solidariedade estabeleceram entre ambos sólida amizade, que os anos não arrefeceram, antes aprofundaram - e o fato fez que eu tivesse no incontestável comandante um amigo certo, a quem ofereci admiração e respeito. Com a subida de Rocha Furtado ao governo, as figuras mais ativas de "O Piauí", Eurípedes, Martins Vieira e Ofélio, receberam cargos oficiais, como auxiliares da administração que se inaugurava. Afastaram-se do jornal, cuja direção Eurípedes me entregou, e pude desempenhá-la com leal observância dos princípios partidários. Transmiti-a, de ordem, ao poeta José Severiano da Costa Andrade.

Em maio de 1947 tive nomeação como delegado de polícia da capital. Por esta forma passei a trabalhar com Eurípedes, chefe de Polícia - e nas funções me conservei até dezembro do mesmo ano.

Privei com Eurípedes no jornal e nos encargos de xerifado. Dele recebi conselhos e proveitosas lições de experiência. Nunca o vi covarde, nem prevalecido de prestígio para perseguir ou humilhar. Uma feita me ensinou que a gente não deve gastar tempo, tinta e papel para se defender de ataque inimigo pelo jornal. Antes se ataca com mais violência o diatribista.


A. Tito Filho, 17/10/1989, Jornal O Dia

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