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sábado, 13 de agosto de 2011

FELÍCIO - III

Uma ocasião dirigi estas palavras a Felício Pinto:

De coração sensível, mostrastes que "a poesia representa a mais coletiva das artes porque se funda na essência mesma do coração humano". Já se disse que a poesia decai à medida que a civilização avança. Por quê? "Por que os poetas entenderam de criar um mundo ideal, que nos ajudasse a esquecer as misérias do mundo ideal, porque os poetas procuram despertar nos mesmos seres as mesmas emoções".

A vossa poesia, sr. Felício Pinto, derivou para "o sorriso amargo que se abre frente à luta entre a insuficiência do homem e a crueldade da sociedade simboliza a poesia da realidade, que não nos alivia da realidade esmagadora do presente, porque nos indica a súmula angustiante dessa realidade" - "não copia, mas interpreta a solidariedade entre os homens, pela simpatia no sofrimento, pela condenação do ódio e da violência".

Prometestes trabalhar para a grandeza desta Academia, pobre de haveres, já agora enriquecida de vossa presença.

Sede benvindo, sr. Felício Pinto, para a continuação do vosso trabalho, honraram os vossos antecessores. Creio no vosso amor à causa de inteligência e da cultura, neste momento em que o dinheiro prolífero como sinal de virtude e de vitória na vida.

Aqui não há lugar para idéias egoísticas. Assim, desempilhai o estoque intelectual do celeiro de vosso espírito e ponde-o a serviço de vossa terra, na continuação fecunda de um labor que constitui legítimo patrimônio do Piauí, por obra dos versos antecessores.

Sêde benvido. A literatura do mundo de hoje só institui que o homem não pode ser enquadrado dentro dos limites de história pré-fabricada, sem que esteja liberto de todos os complexos atuantes no processo social. A história pouco importa: "o que realmente tem valor são as reações humanas e sobre-humanas, são os choques de idéias, a visão que cada qual tem de si e do mundo, as noções de bem, de mal, belo, feio, normal e anormal que compõem a personalidade de cada um de nós. Nenhuma história será realmente concluída, assim como a verdade de cada coisa pode ser finalmente esgotada. Sempre haverá uma trilha por percorrer, que conduzirá a milhares de considerações novas: todas as epopéias humanas são apenas aspectos isolados, episódicos, do inesgotável drama, que a cada geração se reinicia e se enriquece”.


A. Tito Filho, 23/02/1989, Jornal O Dia

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