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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

GREVE E EDUCAÇÃO

Até poucos dias atrás o país viveu a rotina das greves, finalmente encerradas por algum tempo, pelo menos no período que separa os brasileiros das eleições presidenciais. Persistentes foram os professores, sobretudo em são Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Piauí, em movimentos acintosos contra a educação. Neste país insensato suspenderam-se atividades escolares contra o direito de adolescentes e jovens, privados dos estudos por supostas prerrogativas constitucionais, num país de escolas falidas no âmbito público e de colégios comerciais, subvencionados pelo governo, na área privada.  Sempre condenamos essas greves baseadas em conflitos salariais e conflitos políticos, promovidas em prejuízo de estudantes já de si frustrados por razões diversas e mais do que tudo pelo ensino decepcionante. Não deixamos de condenar a triste situação do magistério despreparado desta época conturbada, professores improvisados, sem progresso intelectual de espécie alguma, sem cultura humanística, de linguagem trôpega e incorreta e que levam às salas de aulas paixões partidárias e angústias íntimas, nascidas da decadência da profissão. Limitam-se a pregar rebeldias e a passar deveres de casa para um auditório de vitimas indefesas. Ganham migalhas os professores do momento, embora ensinem mal e deseduquem melhor. O status social dos mestres antigos desapareceu, relegando-se os atuais as mais das vezes ao desprezo ou à desconsideração generalizada. A profissão não atrai os estudiosos como antigamente. Dela participam pessoas que deveriam exercer outras profissões. O governo, de sua vez, considera o ensino problema aborrecido e enervante. Nada pratica para dar-lhe rumos seguros e recuperá-lo. Dá preferência aos absurdos gastos com propaganda pessoal, obras sunturais, mordomias condenáveis. Os professores grevistas ofereceram a sociedade espetáculos deprimentes. A greve deve ser um instituto sério e com o qual os trabalhadores decretam a ausência ao trabalho desde que faleçam os processos legítimos para o atendimento de reinvidicações justas. Mas acontece no Brasil, como recentemente se verificou em São Paulo e Rio de Janeiro, é que os professores grevistas, em grandes ajuntamentos e desfiles pelas ruas de trânsito intenso, impediram que os veículos servissem a população, prejudicada assim nos seus direitos fundamentais. No Piauí, os professores públicos tentaram prejudicar de modo condenável que uma festa cívica, com a presença do governador do Estado, decorresse normalmente - justamente a festa de reinauguração do colégio querido da comunidade, o velho Liceu Piauiense, obrigando-se a polícia a dispersar os manifestantes, que deveriam dar o exemplo de elevada compostura cívica. As greves, quando justas, amparadas pela lei, não necessitam das gritarias, das passeatas e dos xingamentos inúteis e que desacreditam os promotores. Elas devem ser sérias e sobretudo educadas e decentes, sobremodo quando partem de professores. Greves que reclamam pancadaria, ofensas, pedradas são aquelas que se repudiam por si mesmas e nada significam senão o desenfreio de paixões partidárias ou simplesmente políticas. Finalmente os grevistas em são Paulo, no Rio, e outros centros populacionais, em Teresina - voltaram ao trabalho. Quase nada obtiveram, ou tiveram o formidável e criminoso lucro de prejudicar adolescentes e moças sem aulas durante o primeiro período letivo de 1989. Será que os autores de tanto prejuízo a inocentes se sentem confortados dessas atitudes que só conduzem ao desprestígio da classe? Enfim, a nação brasileira se encontra tão desacreditada que até os professores relegam a plano inferior o material humano digno de afeto e carinho - os que têm necessidade de educar-se para a vida.


A. Tito Filho, 29/08/1989, Jornal O Dia

AS FAZENDAS

As ricas fazendas deixadas por Domingos Afonso Mafrense, incorporadas à Coroa portuguesa e depois de roubalheira permanente. Nelas diminuía a renda anual e desaparecia o gado, o que levou o Congresso Nacional a votar leis autorizando a venda ou arrendamento de várias dessas propriedades.

O dr. Francisco Parentes, engenheiro-agrônomo, teve a idéia de trabalhar pela instalação de um estabelecimento zootecnia e agrícola, à margem do rio Parnaíba. Em setembro de 1873 foi o autorizado a criá-lo. Francisco Parentes seguiu para a fazenda Bom Jardim, em Amarante. Aí foi fundado o Estabelecimento Rural São Pedro de Alcântara. Bom Jardim foi um dos sítios de constituição do atual município de Floriano. O edifício dessa instituição apresentava todas as vantagens como escola de ensino prático. O prédio, porém, em 1922, já estava arruinado.

Em 1889, 17 fazendas, dos departamentos de Canindé e Nazaré, subdivididas em 24, foram entregues, sob contrato, a Antônio José de Sampaio: o rico e vasto território, que contém cerca de 18.000 cabeças de gado vacum, 700 cavalares, habitações e o grande estabelecimento rural, além de  importante fábrica de manteiga e queijo, movida a vapor, com o mais perfeito aparelhamento e maquinaria. Nada disto mais existe.

Outras fazendas dos departamentos de Nazaré e Piauí foram arrendadas a Políbio Rodrigues Fernandes, em 1878.

Todas as propriedades de Mafrense volveram ao patrimônio nacional. Tinham o nome de FAZENDAS NACIONAIS. A constituição brasileira de 1946, por iniciativa do deputado piauiense Adelmar Soares da Rocha, determinou que as fazendas passassem ao patrimônio do Estado do Piauí, situação em que elas se encontram, com o nome de FAZENDAS ESTADUAIS.

O gado das fazendas veio das fazendas das margens do São Francisco, trazido por Mafrense. De início, a importação foi feita da ilha do Cabo Verde (Portugal). Esses animais multiplicaram-se extraordinariamente no Piauí.

Em documento de 21/06/1974, o governador Alberto Tavares Silva submeteu ao Senado Federal pedido de autorização para alienar áreas de terras públicas do Piauí à Companhia de Desenvolvimento do Piauí, Sociedade de Economia Mista, que tem o objetivo de fomentar e explorar atividades agropastoris, industriais, mineração e colonização. Nessas áreas está a das FAZENDAS ESTADUAIS, que ocupa os municípios de Oeiras, Floriano, Itaueira, Simplício Mendes, Itainópolis, abrangendo os municípios de Francisco Aires, Arraial, Nazaré, são Francisco do Piauí, Santo Inácio do Piuaí, Campinas do Piauí e Isaías Coelho. Objetivos do governo:

a) execução de projetos de colonização para aproveitamento da mão-de-obra excedente em outras áreas;

b) regularização da situação dos posseiros nos terrenos ocupados e localizados nas áreas referidas, permitindo-se a sua aquisição pelos ocupantes;

e c) alienação a empresas rurais, em lotes não superiores a 25.000ha para implantação de projetos agropecuários e agro-industriais, considerados de interesse para o desenvolvimento do Estado pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e pela própria Companhia de Desenvolvimento do Piauí.

O professor Odilon Nunes, em pronunciamento na Universidade Federal do Piauí, manifestou-se contra a alienação.


A. Tito Filho, 30/09/1989, Jornal O Dia

CRENÇA

Nos Estados Unidos da América do Norte, vigorou durante largo tempo, a crença, a partir do século XIX, de que os presidentes da República, eleitos nos anos terminados em ZERO, de vinte em vinte anos, morreriam no poder. Como se originou o fato? Naturalmente da observação de indivíduos curiosos, que nasceram com a sina de anotar coincidências.

Vejamos. Em 1840, foi eleito para a presidência o cidadão chamado HARRISON. Andava adoentado. Assumiu o alto cargo e nele faleceu um mês depois. Em 1860, Lincoln ganhou a eleição. Quando começou um segundo período de governo assassinaram-no num teatro de Washington. Nas eleições de 1880, GARFIELD, vitorioso, assumiu a presidência e foi morto no exercício das funções. Três vezes deu-se a circunstância com relação aos eleitos: 1840, 1860 e 1880. Agora deveria haver morte presidencial com o que se elegesse no principio do novo século, 1900. Pois a história se repetiu. MACKINLEY ganhou o prélio eleitoral de 1896, dirigiu o país durante um quadriênio. Reelegeu-se em 1900, ocupou segunda vez a Casa Branca, mas bala assassina lhe tirou a vida. Em 1920, HARDING conquistou o governo. Morreu de morte morrida nos aposentos presidenciais. E Franklin Roosevelt quebraria o preconceito? Vitorioso em quatro eleições: 1932, 1936, 1940 e 1944. Notem o ano fatídico da crença popular: 1940. Roosevelt morreu no poder, em 1945. KENNEDY foi o vitorioso nas eleições de 1960. Morreu de morte matada, em Dallas. Observem: os presidentes, eleitos nos anos terminados em ZERO, de vinte em vinte anos, haveriam de despedir-se da vida no poder, como titulares do cargo presidencial: 1840, 1860, 1880, 1900, 1920, 1940 e 1960.

REAGAN, eleito a primeira vez em 1980, enganou a morte. Embora baleado e várias vezes operado, quebrou a corrente. Não deu certo. O homem deixou a Casa Branca em posição vertical, utilizando os próprios pés.


A. Tito Filho, 31/01/1989, Jornal O Dia

ADMINISTRAÇÃO DE TERESINA

A 26 de dezembro de 1889, Gregório Taumaturgo de Azevedo assume o cargo de governador do Piauí. No ano seguinte, 20 de janeiro de 1890, baixou ato, também assinado por Clóvis Bevilaqua, criando, em cada município, os conselhos de intendência municipal. Para o de Teresina foram nomeados os seguintes membros: João da Cruz e Santos, barão de Uruçuí (presidente), capitão Mariano Gil Castelo Branco, barão de Castelo Branco; Teodoro Alves Pacheco, Simplício Coelho de Resende, cônego Tomás de Morais Rego e capitão José Antônio de Santana, ao todo 06 conselheiros. O segundo presidente foi o barão de Castelo Branco.

O Conselho adotou iniciativa de alterar denominações de vias públicas e de administrar os cemitérios, retirando-se da Santa Casa de misericórdia. Também houve substituição de conselheiros.

X   X   X

Dia de 4 de junho de 1890, Gregório Taumaturgo de Azevedo deixou o cargo de governador. A 27 de dezembro do mesmo ano, depois de outros governantes, assume a chefia do Executivo Álvaro Moreira de Barros Oliveira Lima, que decretou uma constituição para o Piauí, ad referendum do congresso constituinte, que se reuniria no ano seguinte, mês de março. Nessa Carta, de 12 de janeiro de 1891, foram criados os conselhos municipais e os cargos de intendente e vice-intendente em todos os municípios.

A constituição votada pelos deputados e promulgada a 13 de junho de 1892 manteve os dispositivos acima referidos, de modo que Teresina deveria escolher os seus dirigentes e os seus legisladores.

Mas antes que se verificassem eleições e a posse dos eleitos, o Conselho de Intendência tomou interessante deliberação, determinando que os habitantes da cidade estavam obrigados, nos dias de sábado, a varrer a frente de suas casas, até o meio da rua.

Registrem-se mais os seguintes acontecimentos: instalação do 35º Batalhão de Infantaria (Exército), o batalhão querido da cidade, que lutou no sul de 1893 a 1896 e em Canudos (BA), onde, de 498 soldados teve 338 mortos. Em janeiro de 1900 esse admirável corpo de heróis foi transferido para são Luís. No ano de 1891, o Piauí criou a sua primeira loteria (a atual apareceu no governo Chagas Rodrigues) e instalou o Tribunal de Justiça, composto de 05 membros.

A iniciativa particular foi de pouco monta em 1890: criação do Clube dos Artistas (já desaparecido) e do Instituto de Karnak, estabelecimento de ensino secundário, com internato e externato. Fundador: Gabriel Luís Ferreira. Esse órgão educacional já desapareceu.

O primeiro pleito para escolha do intendente, do vice e dos conselheiros municipais realizou-se a 31 de outubro de 1892. Foram eleitos, com o número de votos entre os parênteses: intendente, Manuel Raimundo da Paz (472), vice, Honório Parentes (473). Conselheiros: militar e proprietário Raimundo Antônio de Farias (472), farmacêutico Alfredo Gentil de Albuquerque Rosa (475), os militares e comerciantes Joaquim José da Cunha (475), Raimundo Elias de Sousa (475), Leôncio Pereira de Araújo (475), Jardelino Francisco Barbosa d'Amorim (475), Viriato Rios do Carmo (369), Francisco da Silva Rabelo (369) e Manuel Lopes Correia Lima (369), poeta e jornalista. Ao todo, 9 conselheiros.


A. Tito Filho, 28/10/1989, Jornal O Dia

EMPRESA

Li a "Grande Importância da Pequena Empresa", com excelente análise do assunto nos Estados Unidos, no Brasil e no mundo, trabalho de Steven Solomon.

A grande importância da pequena empresa é simplesmente espantosa. Custará acreditar nas cifras e nas histórias aqui contadas neste livro, a primeira grande pesquisa publicada nos Estados Unidos sobre a influência do micro, pequeno e médio empresário na evolução daquela que é ainda hoje a maior potência econômica global.

Mais de um milhão e meio de americanos dá inicio, anualmente, a outras tantas pequenas empresas. Dez milhões esperam copiá-los, freqüentando cursos, recolhendo informações, fazendo poupanças para futuros investimentos. Esse ímpeto está sendo estudado e adotado por outros países como o Japão, a maioria das nações européias e até países do bloco comunista. O próprio santuário do socialismo, a União Soviética, realiza modificações, reformas econômicas, adota o capitalismo e estimula a iniciativa privada, pequenos empreendimentos.

E, no Brasil (as pequenas e micro-empresas), "representam mais de 90% dos estabelecimentos comerciais, empregam 65% da mão-de-obra, pagam 42% dos salários e respondem por 54% da produção nacional". Quem informa estes dados é o Professor Paulo Lustosa, do Cebrae, num magnífico e oportuno posfácio para esta edição brasileira que, no final, apresenta ainda uma boa série de nomes e endereços de entidades dedicadas a apoiar o micro, pequeno e médio empresário.

Steven Solomon é jornalista, especializado em assuntos econômicos e financeiros. escreve regularmente para Forbes, The Economist, The New York Times e outras publicações. Dirige também a sua própria pequena empresa.


A. Tito Filho, 28/07/1989, Jornal O Dia

CONSULTÓRIO

Ao tempo dos meus estudos ginasiais no velho e bom Liceu Piauiense, costumava fazer a leitura dos três volumes de ensinamentos gramaticais de Cândido de Figueiredo, que mantinha, na imprensa de Lisboa, coluna de resposta a consulta de leitores. Satisfiz muitas curiosidades, mas não considerava práticas as lições do escritor lusitano. Já professor do ensino médio, li as interessantes dificuldades expostas por Maximiano Gonçalves. Também me servi de Napoleão Mendes de Almeida, com quem, anos depois, troquei idéias num encontro de literatura realizado em Fortaleza. Outro estudioso de fatos de linguagem, Silveira Bueno, expôs esclarecimentos numerosos nos seus vários volumes de questões de português, em resposta a pessoas que lhe dirigiam cartas de perguntas. Faz algum tempo adquiri uma obra simples, com o registro de dezenas de observações de ortografia, colocação, regência, concordância, emprego de pronomes, trabalho de singular clareza, inteligente e de muita oportunidade, mas incompleto no tocante ao número de casos de mais necessidade, sobretudo aos principiantes. Trata-se do livro de Vitório Bergo "Erros e Dúvidas de Linguagem".

Durante anos li dicionários, palavra por palavra, a começar pelo monumental Moraes, e outros, como os de Aulete, Mesquita de Carvalho, Antenor Nascentes, Laudelino Freire, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Retirei dezenas e dezenas de vocábulos e examinei de cada um as dificuldades que poderiam oferecer aos iniciantes no estudo de língua portuguesa. Grafia de nomes, conjugação e regência verbal, indicações de crase, emprego de pronomes, gentílicos, e muitos outros aspectos convocaram-me comentários. Pensei em publicar um livro com o nome de consultório e o projeto continua nas minhas cogitações.

Cineas Santos, uma das melhores expressões da vida intelectual piauiense, professor ilustrado, estudioso do português, rico de preocupações com os destinos deste pobre e triste país, publicou agora TIRA-DÚVIDAS, em que leciona, numa síntese aplaudida, como resolver as questões que de vez em quando atormentam os que escrevem. São ensimanentos simples que evitam tolices e asneiras nas expressões usuais da língua. Excelente esforço a serviço da coletividade de muitas almas ignorantes.


A. Tito Filho, 27/06/1989, Jornal O Dia

O TEATRO QUERIDO

Era bom. Eu não havia nascido ainda e no Teatro 4 de Setembro teve início a HORA ARTÍSTICA FAMILIAR, uma beleza de programa, aos domingos. A 31 de julho de 1921, nessa última e mais gentil manifestação da arte entre nós, como dirigia Higino Cunha, a talentosa Durcila Batista, entre outras senhoras ilustres, interpretou A TRAVIATA no bandolim. Muitos outros espetáculos se seguiram. Depois outra denominação teve essa magnífica convivência espiritual da sociedade teresinense: HORA DE ARTE, cujas representações dominicais, pelas dez da manhã, eu aplaudia e delas a memória não pode esquecer, tamanha a graça das garotas e a segura direção musical das senhoras participantes. Momentos inapagáveis deixaram na gente saudades que só a morte tem o condão de apagar. Na minha lembrança permanente se encontram Maria Lúcia Pereira da Silva, Rosilda Brito, Amariles Carvalho, Aurora Fonseca, Janete Parentes, Edelweiss Carvalho, Maria Celeste Silva, Jandira Gomes, meninas bonitas do nosso tempo. A SERRA DA MANTIQUEIRA na voz de Candinha Lustosa não me sai do pensamento. E o contrabaixo de Carlindo Andrade? E a dedicação das damas Zelinda Parentes, Adalgisa Silva, Lili Castelo Branco, Beatriz Paz, Anita Gayoso, Maria Luisa Oliveira na organização desses encantadores instantes? Em 1934 dançaram e cantaram no Teatro meninas educadas e esbeltas, do naipe de Lígia Martins, Doris Oliveira, Maria Alice Rebelo, Genu Aguiar, Maria Haidine Albuquerque, Ivone Bandeira, Aladi Santana. Algum tempo depois, outras garotas mimosas arrancavam palmas: Iracema Freitas, Laís Arêa Leão, Flora Resende, Haidê Melo, Maria de Lourdes Ferreira, Maria Cristina Cruzes, Têmis Soares, Ester Carvalho, Gardênia Carvalho, Maria de Lourdes Portela, Lilizinha Castelo Branco. O velho Teatro ouviu a flauta de Agripino Oliveira, o violão de Alcides Gomes da Silva e o violino mágico de Moura Rego. Nele declamou Celso Pinheiro e Higino Cunha fez oratória de homem culto.

Era bom. A sociedade teresinense possuía preocupações com a arte. A diversão de todos tinha o lado alegre, sadio, decente.

Hoje se vive de festinhas, festanças e festocas. Desfiles de homossexuais. Uiscadas. Sofisticações. Hipocrisias. Amizades de dinheiro. Tudo tão frívolo, tão pérfido. Ficou ruim e pervertido. Não se mata a natureza nem se extingue o passado impunemente.


A. Tito Filho, 27/07/1989, Jornal O Dia

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

ETERNIDADE DA BÍBLIA

Jesus nada escreveu nem elaborou um sistema doutrinário, mas fundou uma religião que é uma filosofia. Foi o criador dos maiores idéias da humanidade. Pregou um código moral permanente, baseado no afeto, no amor e na igualdade: uma doutrina para o coração.
A Bíblia talvez seja o livro mais lido na face da terra, com profunda influência na evolução espiritual do mundo.

Os livros sapienciais chamados Jó, Provérbios, Eclesiastes apresentam uma idéia central que em toda a Bíblia aparece a cada instante. A idéia de que a sabedoria é um dom de Deus, soprada por ele na criatura humana. A sabedoria é a rainha de todas as virtudes.

Como conciliar a idéia de Deus coma injustiça do mundo, como conciliar o sofrimento dos justos com a fé na providência divina. A solução bíblica está na frase de Eliú: os sofrimentos dos justos constituem a purificação e a passagem para a glória maior. O sofrimento assume, pois um caráter de purificação e provocação. Em outras palavras: o homem deve aceitar, com fé, a sabedoria divina, sem tentar penetrar nos mistérios da providência. O homem deve conformar-se à sabedoria, isto é, à lei de Deus.

Na Bíblia, a sabedoria é uma virtude. É o temor de Deus a virtude que torna os homens sábios. Ser sábio é ser justo, é fazer bem ao próximo. não há sabedoria onde existe impiedade.

Para a Bíblia as cousas são frágeis. Vaidade das vaidades, tudo vaidade. Nada de novo sob o sol. Tudo é passageiro na vida: os prazeres, a riqueza, a beleza, a glória, pois tudo à vaidade e aflição espiritual.

Eterna sabedoria divina do amor.

Deus dá sabedoria aos homens, mas ninguém pode compreender os desígnios do alto.

A Bíblia é livro eterno como a sabedoria divina. Cada um de nós encontrará nas suas páginas a lição do amor e da virtude e mais do que tudo a fragilidade das cousas terrenas.


A. Tito Filho, 29/06/1989, Jornal O Dia

SITUAÇÃO NACIONAL

A nação brasileira parece que já aceita a rotina de aflições sem conta. Martiriza-se a fome de milhões, uma fome endêmica ou epidêmica, a doença concede às populações subnutridas vida curta e plena de sofrimentos, a habitação desumana constitui o cenário em que se abrigam as famílias de assalariados. A violência faz parte da convivência nas pequenas, nas médias como nas grandes cidades. Multiplicam-se os assaltos e os seqüestros. Mata-se por motivo ignóbil e até sem motivo algum. Vigora a lei da truculência. Diariamente os preços das utilidades disparam, sem que escapem os produtos oficiais vendidos pelo governo, como no caso dos combustíveis. Após a Constituição de 1988, tornou-se permanente a greve, sobretudo de professores de todos os graus, uma greve contra a educação e o saber e mais ainda contra os direitos sagrados de adolescentes e jovens, justificada porém pelos péssimos salários dos docentes que, mal pagos e endividados, perdem inteiramente o status social, que os fazia, nos dias passados merecedores do reconhecimento da coletividade. O ensino público nas áreas federal, estadual e municipal perdeu a credibilidade. Milhares de funcionários públicos da ativa não trabalham e comparecem nas repartições nos dias de pagamentos. São INVÁLIDOS por falta de ocupação e vivem pensionistas oficiais. Os famosos educandários particulares representam indústria de alta renda para os felizardos proprietários que ainda recebem ajuda governamental. Os poderes republicanos discutem, debatem e decidem sobre o salário mínimo das gentes nacionais, uma remuneração ínfima, raquítica, que mal cobre as despesas de alimentação, enquanto se pagam milhões mensais a um membro do legislativo. Perdeu-se a vergonha. Os mais tristes gestos contra a dignidade nada significam para os que transgridem as leis, pois a sociedade moderna considera heróis os que sabem enriquecer depressa, por conta de golpes de esperteza. Os bandidos ganham o noticiário dos jornais, dos rádios e das televisões. Os povos conhecem mais ESCADINHA do que Oswaldo Cruz. Os bicheiros têm papel saliente nas novelas das tevês e ganham o prêmio maior da conquista das JOCASTAS tipo Vera Fischer. As cenas do despudoramento ganham as telas caseiras. Sepultou-se a nudez como sustento de publicidade malsã e de convocação dos sentidos. Vivem os ricos de extravagâncias, desperdícios e futilidades, gastando a rodo os dinheiros embolsados e adquiridos de maneira pouco recomendável e sob condenação generalizada. Mulheres e homens milionários passam as noites em solene uiscadas. Gastam dezenas de salários mínimos nas festas e nos casamentos dos filhos sem trabalho. Vestem-se de trajes luxuosos, dissipam fortunas em episódios sem sentido. Assim vem sendo a pátria amada, ingrata com os humildes e pequenos, que só encontram conforto nas criminosas ações de roubo e vingança. O menosprezo dos bens culturais, porém, completa o quadro assustador em que mergulha a nação. Aboliu-se a leitura nos hábitos familiares e educacionais. que se lê no Brasil? Nada. Apenas uma elite conhecida ainda participa dos ensinamentos dos livros. Preponderam insultuosos esquecimento dos melhores documentos da literatura nacional. Ninguém conhece mais os nossos grandes escritores. As solenidades cívicas desapareceram. Ainda se realizam alguns lançamentos de obras entre amigos íntimos. A cultura corresponde a notável pasmaceira generalizada. As televisões fabricam as mais das vezes asneiras enlatadas. Centenas de cantores se exibem, em cantigas de músicas e letras inexpressivas. não se ouvem mais os grandes momentos da música. A arte dramática vale pornografia. A nação debilita-se. Estertora. Extinguem-se os seus mais sagrados caminhos espirituais. Quando uma nação se alimenta de futilidades e despreza a sua língua, a sua história, o seu patrimônio moral - e vegeta deseducada e amorfa - está doente, agoniza sem salvação.


A. Tito Filho, 26/06/1989, Jornal O Dia

POLÍCIA - III

Sinceramente que estou desconhecendo o meu Brasil. Era bom o Brasil. Tive uma infância alegre, risonha, banhando nas boas águas do Marataoã, no pedaço de território piauiense chamado Barras. A gente brincava de bola de meia, no beco de casa, e manhãzinha colhia creoli e coroa-de-frade pelas margens da riacharia. Minha adolescência se deu em Teresina, nos estudos, e no velho Marruás, nas férias. A mocidade se dividiu por Teresina, Fortaleza, Rio de Janeiro. Ditosos tempos. Namoros acolchoados na penumbra dos cinemas. Cinco anos na terra carioca, de noite eu gostava dos cabarés da Lapa e dos bares chiques de Copacabana. Por essas andanças e moradias nunca ouvi falar de assalto. Havia gatunagem. Crime só de vingança por causa de chifres, ou em bebedeiras nas biroscas das favelas. Em quase tudo, ordem, disciplina, camaradagem, gosto de viver. O Brasil atravessou ditadura e descambou nessa tal democracia que nunca foi ao menos imitação da dita cuja. Democracia supõe respeito, harmonia social, ausência de fome e de miséria, e da infame injustiça contra os pequenos. Não pode haver regime democrático onde impera o triste espetáculo dos marajás, das mulheres dos marajás, filhas e netos dos marajás, ao lado das esmolas pagas a milhares de pobres diabos, os barnabés ou funcionários públicos mendigos, ou operários obrigados a baixíssimo salário mínimo, cujo valor não permite a aquisição de meio quilo de carne por dia.

Alberto Silva sempre se mostrou sensível aos mais puros sentimentos de solidariedade humana. Não sou político nem sei bajular quem quer que seja. De longe conheço o atual governador do Piauí, homem leal a Deus e às criaturas criadas por Deus. E digo ao governante, apelando para a sua magistratura, que não pode o policial civil do Estado ganhar, senão com fome, os magríssimos vencimentos que vem recebendo. Quanto ganha um delegado? Menos de sessenta cruzados novos mensais ao que parece - justamente a autoridade sobre cujos ombros pesam a responsabilidade da segurança coletiva.

O Delegado Antônio de Melo Lima defende uma causa justa, decente, digna. Merece apoio da coletividade.


A. Tito Filho, 29/04/1989, Jornal O Dia

POLÍCIA - II

Nos princípios da década de 30, os Estados Unidos viveram momentos emocionantes. John Dillinger inaugurou os tempos sangrentos de assaltos a bancos. Duas vezes apenas a polícia norte-americana teve sorte na luta contra o homem que a imprensa considerou o INIMIGO PÚBLICO Nº 1 do país. Uma ocasião conseguiu prendê-lo, mas o célebre bandido fugiu da cadeia. Noutra a oportunidade, traído por conhecida meretriz, Dillinger foi varado a balas, quando saía disfarçado de um cinema em Nova Iorque. qual o segredo desse famoso gangster, temível assaltador de bancos, comandante de um grupo de assassinos frios e useiros em tropelias criminosas? Simples. Dillinger e os seus liderados dispunham de armas mais poderosas do que as usadas pelos homens da lei. Aconteceu por esta forma: o aparelho policial sempre esteve sem os instrumentos necessários ao combate do crime e dos que vivem da sua prática.

À deficiência de veículos, de armas, de laboratórios, acrescente-se de alguns anos para cá a péssima remuneração dos agentes policiais.

Veja-se esta hoje sofrida e desconjuntada Teresina, uma cidade que Saraiva edificou entre a poesia e a tranqüilidade de dois rios, agora o pasto dileto das ambições imobiliárias para o sustento do desperdício do soçaite, nas noites regadas a uísque e corpos femininos.

Teresina progrediu muito. Possui espigões, pistoleiros, crimes misteriosos, pivetes, motéis de alta rotatividade, restaurantes de luxuria desbragada, veadagem encantadora, sapatões de mãozinhas dadas nos calçadões sem sentido, mas a polícia está incapacitada de vigiar os locais em que desfilam as tristes personagens das noites de luxúria e de drogas. Se aos desprotegidos policiais civis sobram o risco e o receio das balas dos marginais, falta-lhes até mesmo o conforto de poder ao menos, humildemente, sustentar a família.

A luta do delegado Antônio de Melo Lima, presidente da Associação de Policiais Civis, merece apoio. E reclama de Alberto Silva sensibilidade e decisão. Os policiais ganham miséria - eis a verdade.


A. Tito Filho, 28/04/1989, Jornal O Dia

terça-feira, 27 de setembro de 2011

POLÍCIA - I

Fui delegado de polícia faz muito tempo no governo Rocha Furtado. Delegado de Trânsito e Costumes. Era de tomar conta do trânsito e dos maus costumes, numa época em que trafegavam poucos automóveis e o transporte coletivo estava começando, nuns ônibus velhos escangalhados. Mas no tocante a costumes, o trabalho se mostrava um pouco desenvolvido. Minha delegacia instaurava processos pelo chamado defloramento de garotas, fiscalizava forrós, cabarés, resolvia casos de vizinhança, enfim instaurava os inquéritos respectivos, quando necessário. Nesse tempo as garotas já estavam sapecas, na classe alta, na classe média, como na classe chamada dos pobres. Nesta última havia constante desvirginamento, ou quebra de cabaço, da forma que se dizia na linguagem de esquina. Participei como delegado de exame nas três classes sociais, no todo 73 meninas, durante um ano, se deitaram na cama da delegacia, abriram as coxas e o médico Hugo Bastos olhava o negócio e atestava os rompimentos. Eu e o escrivão Matias Melo Filho assistíamos ao exame debaixo de muita perturbação de sentidos. Era bom, delicioso ver a cousa bem de perto. De modo geral as defloradas, no correr do inquérito, passavam pelo nosso crivo, meu e de Matias, que nós não éramos deste mundo. Não sei se Hugo Bastos também se metia na aventura de amor sem perigo de polícia. Ainda hoje me encontro com caboclas de cabelo branco e que amei em casebres de palha. Eu e o outro perito na mesma safadeza, meu saudoso mestre Matias Melo Filho, que Deus o guarde na sua glória e sabedoria.

Tempo bom o de delegado. Agora recebi a visita de um colega inteligente, dedicado à polícia, presidente de conceituada associação civil de policiais, o delegado Antônio de Melo Lima. Muito conversamos. A polícia do meu tempo tinha folga, a cidade gozava de paz.

Inexistia o progresso moderno do pistoleiro, da vingança dos assassinatos diários.

Antônio de Melo Lima me contou sobre os vencimentos da polícia do Piauí para enfrentar bandidos. Uma lástima, como se verá do próximo assunto.


A. Tito Filho, 27/04/1989, Jornal O Dia

GIÓRGIA

A 22 de abril, sábado, Giórgia da Silva Matos, filha do casal José Moacir Matos e Célia Matos, completou 15 anos de idade. Os pais felizes ofereceram recepção aos amigos no hotel Rio Poti, uma convivência alegre, contagiante, simples, de organização perfeita. Tudo bonito, encantador. À mimosa menina-moça dirigi esta mensagem:

"Deixou você, Giórgia, a infância, a aurora da vida humana, idade do contentamento, em que predominaram o brinquedo e a fantasia, e penetrou na adolescência, a fase da imaginação e dos sentimentos fraternos. É o tempo em que encontramos, como você, a poesia das cousas e dos cenários revelando-se às nossas almas e de tudo fazemos objeto de ternura. A adolescência verdadeira, compreendida pelos pais, corresponde à sua, Giórgia, em que predomina a beleza poética do que nos cerca como o gosto da música, da viagem, da leitura e da natureza e dadivosa.

Depois da adolescência, começa a outra idade, a mocidade, plena de paixões - as imensas paixões do amor, do poder e da liberdade. Início das idéias e das dúvidas.

Hoje, Giórgia, encontra-se você na época da transição. Ainda não terminou a sua adolescência e surgem os primeiros caminhos da segunda fase da existência. Você ainda está adolescente aguardando a idade mais feliz da vida, a idade moça, que começa a surgir na sua personalidade.

Não renegue a infância nem a adolescência de que você está a despedir-se, mas faça de ambas a segurança da mocidade, porque as idades da vida, nas suas características positivas e negativas, se interpenetram e se auxiliam.

Lembro-me dos brincos da minha infância alegre na tranqüila cidade de Barras, quando eu atirava à superfície tranqüila das águas do rio Marataoan a pedrinha da infantilidade e via-a provocar círculos concêntricos que se desdobravam até que se perdiam na distância. Faça, Giórgia, que neste momento lhe atinja ao coração os gestos de sacrifício de suas país para torná-la feliz, e que eles, os gestos, se desdobrem na gratidão permanente com que deve retribuir-lhes sempre na majestade do seu amor de filha. Todas as idades se compõem também de virtudes - e estas devem permanecer sempre no seu ideal de doação da adolescência que ainda está em você e da mulher que vem surgindo".


A. Tito Filho, 26/04/1989, Jornal O Dia  

A BÍBLIA

A Bíblia é livro eterno como a sabedoria divina. Cada um de nós encontrará nas suas páginas a lição do amor e da virtude e mais do que tudo a fragilidade das cousas terrenas.

A traição de Judas, Pedro negando o Mestre, a justiça de Pilatos, a crucificação, a ressurreição, a incredulidade de Tomé - ensinam que o homem é fraco e só poderá encontrar conforto na grande sabedoria divina.

Há, na Bíblia, lições eternas, que são um hino à grandeza de Deus na criação.

Um livro de piedade dos homens e da impiedade dos homens: nada de novo até hoje. Nada de novo sob o sol. A humanidade, desde os tempos bíblicos, tem sido a dos homens que martirizam e a dos que não martirizam. Tudo na conformidade da vontade de Deus.

Tenho impressão de que se a humanidade lesse a Bíblia, meditasse sobre seus ensinamentos, recolhesse as suas lições - tenho impressão de que a humanidade seria outra, conquistaria a sua grandeza, que só pode ser feita da sabedoria divina.

Impiedoso, com a sua impiedade o homem gerou o inferno em que vive, contemplando a agonia lenta de uma civilização que desaparece amortalhada no seu destino infeliz e devorado pelos seus próprios erros.

A impiedade é o pecado. A sabedoria se opõe ao pecado. Ser sábio é ser justo, é amar o próximo.

A humanidade, sempre e cada vez mais, precisa da sabedoria do Cristo, eterna como a própria Bíblia.


A. Tito Filho, 29/07/1989, Jornal O Dia    

CONSTITUINTE 1947

A Comissão Constitucional ficou integrada dos Deputados Antônio dos Santos Rocha (Presidente), Joaquim Lustosa Sobrinho, Waldemar Ramos Leal, Alcides Martins Nunes, Alberto de Moura Monteiro, Constantino Pereira de Sousa, Agenor Portella Veloso e Tasso Fortes do Rego.

Autoria intelectual do projeto: Cláudio Pacheco.

A 22-8-1947 se promulgava a Constituição do Estado do Piauí. Não se conformaram com os seus princípios básicos os 14 deputados da União Democrática Nacional e o Deputado do Partido Social Democrático José Burlamaqui Auto de Abreu, que se recusaram a assiná-la, divulgando nota de protesto, em que afirmaram num trecho determinado: "O que se entrega aos piauienses, como uma Constituição, é um simples instrumento de força, forjado no ódio, e destinado, na mais condenável das premeditações, a cumular-nos de embarcações no presente e a toldar-nos os horizontes do futuro".

Assinaram o protesto os Deputados Joaquim Lustosa Sobrinho, Agenor Portella Veloso, Antenor Martins Neiva, Cícero Rodrigues da Luz, Francisco Antônio Paes Landim Neto, Hélio das Chagas Leitão, João Ribeiro de Carvalho, José Mendes de Morais, Mário Raulino, Orlando Barbosa de Carvalho, Paulo Salgado, Wenceslau de Sampaio, Tasso Fortes do Rego, Antônio Hermenegildo de Assunção (UDN) e José Burlamaqui Auto de Abreu (PSD).

A União Democrática Nacional se rebelava contra certas normas adotadas pela maioria do Partido Social Democrático e Partido Trabalhista Brasileiro na feitura da Constituição - e dessas normas cumpre destacar as mais famosas no tempo, que foram, aliás, confirmadas pelo Supremo Tribunal Federal:

- Exercício do cargo de Chefe de Polícia por militar da ativa ou bacharel em Direito, com o fim de impedir que continuasse nessas funções o médico Eurípedes Clementino de Aguiar, forte adversário dos pessedistas.

- Derribada de veto governamental por maioria absoluta, e não por dois termos dos deputados.

- Criação do cargo de Vice-Governador, eleito pela Assembléia, com as funções de Presidente do Poder Legislativo.

- Revogação de todos os atos do Governador que tivessem demitido sem justa causa ou transferido de um município a outros funcionários públicos, por motivos partidários. Os prejudicados tiveram os direitos constitucionais reconhecidos depois de muitas lutas.


A. Tito Filho, 27/11/1989, Jornal O Dia

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

COMENTÁRIO

Por mais otimista que o brasileiro seja, ou pretenda ser, não pode desconhecer que o país se encontra em postura pré-agônica. Os problemas multiplicam-se dia por dia. Campeia a violência. Vigora o assalto. Mata-se por vingança, por ambições contrariadas, ou na defesa de princípios ilegítimos. Dinheiros sem conta se gastam na aquisição de tóxicos. A cocaína tem circulação internacional. Os sanatórios se povoam de jovens viciadas, vítimas de banditismo em todos os países. Faliu a escola pública, substituída pelos balcões comerciais dos estabelecimentos particulares. Os professores perderam o status social. Falta-lhes preparo e equilíbrio. Têm nervos à flor da pele por virtude das dificuldades financeiras. Sepultam-se infelizes estudantes, decepcionados, desiludidos, de futuro incerto. As universidades fabricam doutores sem que se lhes conceda mercado de trabalho. O homem sem terra e sem teto do interior busca a cidade grande e acrescenta mais dificuldades aos centros urbanos, na constituição da estupidez das megalópoles. O trânsito apavora, suprime vidas, enlouquece motoristas e pedestres. As moradias desconfortáveis, espremidas, constitutivas de conjuntos habitacionais sem higiene, são fonte permanente de promiscuidade. Meninos suburbanos se alimentam de barro das ruas, à procura de suprir deficiências orgânicas. Ignorância generalizada. Analfabetismo envergonhante. Penitenciárias entupidas de toda espécie de criminosos e contraventores, em cubículos miseráveis, famintos, sem qualquer assistência espiritual, presos revoltados e sempre dispostos à reincidência. Fome e desemprego. Menores sem lar, sem afeto, escorraçados, educados para a delinqüência. Meninas adolescentes entregues à concupiscência de amorias, em bordéus de luxo, alunas de um sistema de televisão nocivo à dignidade de espécie humana, em que as TIETAS, de vergonhoso despudor, desvirginam os sobrinhos seminaristas, episódio revoltante, com que o Brasil se diverte, talvez, digno do espetáculo de sexo e luxúria. a esperteza, no país, tornou-se sinônimo de heroísmo. Quanto mais se rouba, mais se colhem aplausos. Triunfam os que enriquecem à custa de golpes bem dados. Os jornais acusam e ninguém se defende. Os ladrões de colarinho branco gozam de privilégios da impunidade. A criminosa especulação imobiliária aleija cidades e não tem freios. À sua custa nascem, crescem e se desenvolvem nababescas personalidades. As leis quase sempre têm endereço certo, assentam-se sobre irrecusáveis casuísmos. Não se respeita ao menos o aviltante salário mínimo dos que se empregam subordinados a regimes trabalhista, sonegado oficialmente e por profissionais liberais. Descumprem-se deveres legítimos. Professa-se a filosofia da malandragem. País do carnaval, da licenciosidade, da falta de discernimento. Violam-se direitos dos humildes. As filas nas ruas, em busca dos serviços públicos assistenciais, envergonham e humilham. Tornou-se vitoriosa a contravenção da jogatina. O próprio governo explora loterias, lotos, lotecas, senas, e até governantes já foram denunciados como sócios de jogo do bicho. Anuncia-se que algumas contribuições estaduais permitem o funcionamento dos cassinos, nos quais tudo se perde, inclusive a honra. Qual o setor deste país que funciona no cumprimento das suas finalidades? Talvez exista algum, embora seja difícil registrá-lo. Que dizer dos banqueiros privados e dos oficiais? Os juros andam em cinqüenta por cento ao mês, isto é, a usura atinge o sem-fim. E a inflação? E a monstruosa burocracia, a massa imensa com que o país, os estados e os municípios e as estatais gastam somas incaláveis? Num Brasil assim, só os ricos, os milionários, os empanzinados de lucros absurdos e desonestos, o soçaite fútil e dissipador, que afronta a pobreza de quase todos - só os ricos sobrevivem e gozam a vida, embora inseguros da própria inutilidade.


A. Tito Filho, 25/10/1989, Jornal O Dia

NOMES ANTIGOS

Rua Álvaro Mendes. Nomes anteriores: rua Grande, doutor Portela e novamente rua Grande. Observação: da praça da Liberdade, em diante, a partir de 1939, chamou-se Monsenhor Gil. Tal divisão foi anulada em 1976.

Rua Senador Teodoro Pacheco. Nomes anteriores, rua Bela, Marquês de Paranaguá, Bela.

Rua Lisandro Nogueira. Nomes anteriores: rua da glória, desembargador Gil, Benjamim Constante, Glória.

Rua Eliseu Martins. Nomes anteriores: rua Augusta, dos Negros, Anfrísio Fialho. Observação: esta rua foi dividida da seguinte forma: praça João Luís Ferreira, rua Anfrísio Lobão; da praça Demóstenes Avelino à praça Floriano Peixoto, rua General Osório, Lei de 1976 considerou-se rua Eliseu Martins em toda a extensão, desaparecendo as divisões mencionadas.

Rua Firmino Pires. Nomes anteriores: rua do Imperador e Cesário Alvim.

Avenida Antonino Freire. Nomes anteriores: rua São Benedito, Padre Marcos, avenida Frei Serafim, avenida Odilon Araújo.

Rua São Pedro. Nome anterior: Padre Fonseca.

Rua Olavo Bilac. Nome anterior: Santo Antônio.

Rua Coelho Rodrigues. Nomes anteriores: rua da Palma, rua do Fio. Observação. Em 1939, esta rua foi assim dividida: da praça João Luís Ferreira à praça Demóstenes Avelino, rua Machado de Assis; da praça Demóstenes Avelino à avenida Miguel Rosa, rua Osvaldo Cruz. Em 1976, a divisão foi revogada e a rua, em toda a linha, se chama Coelho Rodrigues.

Rua Félix Pacheco. Nomes anteriores: São José e Siqueira Campos.

Rua Paissandu. Nomes anteriores: rua do Pequizeiro. Observação. Esta rua foi assim dividida, em 1939: da praça Pedro II até a praça Frei Serafim (hoje são Benedito), rua Duque de Caxias; desta última praça em diante, rua Monsenhor Lopes. A legislação de 1976 revogou a divisão, estabelecendo o único nome de Paissandu.

Rua Areolino de Abreu. Nome anterior: rua do Amparo.

Rua Simplício Mendes. Nome anterior: Quintino Bocaiúva. Observação. Em 1939, a rua foi assim dividida.


A. Tito Filho, 30/10/1989, Jornal O Dia

NOMES ANTIGOS

Avenida Miguel Rosa. Chamou-se avenida Circular.

Rua Clodoaldo Freitas. Nomes anteriores: rua do Fogo e rua Palmeirinha.

Rua Lucídio Freitas. Chamou-se rua da Matinha.

Rua Alcides Freitas. Chamou-se rua 13 de Junho.

Rua Rui Barbosa. Antiga Estrada Nova.

Avenida Frei Serafim. Inicialmente, avenida Frei Serafim, depois Getúlio Vargas. Voltou à primeira denominação.

Rua Sete de Setembro. Da praça João Luís Ferreira, no rumo sul, recebeu, em 1939, o nome de Miguel Couto. A divisão desapareceu em 1976.

Rua Desembargador Freitas. Antiga rua da Estrela. Observação. Em 1939, ao trecho entre a praça Landri Sales e a avenida Maranhão foi dado de Humberto de Campos. Tal denominação foi revogada em 1976.

Praça João Gayoso. Nomes anteriores: praça da Santa Casa, praça Conde D'Eu, praça Campo de Marte, praça 13 de Março, praça Engenheiro Areia Leão, praça Campo de Marte.

Praça Marechal Deodoro. Nomes anteriores: Largo do Amparo, praça do Palácio (alusão ao Palácio do Governo, ali localizado), praça da Constituição. Observação. Na praça Deodoro está situado o Parque da Bandeira.

Praça Maria do Carmo Rodrigues. Chamou-se praça Poti Velho.

Praça Pedro II. Nomes anteriores: Aquibadã, Independência, João Pessoa.

Praça Landri Sales. Nomes anteriores: Baixa da Égua, ponto de ótima pastagem. Aí eram peados os animais. Apareceram os ladrões de peias. A cidade se queixava desses meliantes desconhecidos. Um, apareceu morto, com o crânio partido, um negro, e perto dele uma bonita égua cardã, que tinha a alça da peia desamarrada e o caso do pé direito manchado de sangue. A partir daí, a denominação popular de Baixa da Égua. Depois se chamou Largo do Paço da Nação (abertura de um poço na praça). Seguidamente, praça 15 de Novembro e praça do Liceu (batismo popular).

Praça Rio Branco. Nomes anteriores: praça do Comércio e Uruguaiana.

Praça da Liberdade e Praça São Benedito. Eram uma só, com estas anteriores denominações: Monsenhor Gil, São Benedito, Frei Serafim. Atualmente o grande largo onde se edificou a igreja de são Benedito tem duas denominações: do lado da Escola Técnica Federal, praça da Liberdade; do outro lado, praça São Benedito.

Praça João Luís Ferreira. Nomes anteriores: Padre Marcos e praça da República.


A. Tito Filho, 31/10/1989, Jornal O Dia

domingo, 25 de setembro de 2011

NOVA CIVILIZAÇÃO

Quando cheguei ao rio, para estudos, nos anos 40, havia na cidade UM edifício alto, de vinte e dois andares. Chamava-se A NOITE e nele funcionavam duas empresas nacionais, responsáveis por um jornal, uma revista e uma rádio. O espigão constituía atração da antiga cidade maravilhosa. Nos dias de domingo, muitas pessoas faziam visitação ao terraço do prédio, nas alturas, para contemplação da paisagem. Pagava-se pequena taxa de ingresso. Na avenida Rio Branco viam-se edifício de três, quatro, seis andares, de feitio antigo. Célebre, o Palace Hotel, que vinha da primeira República, importante, hospedagem de políticos, sobretudo. Em Copacabana, de seis andares, o internacional Palace, hospedagem famosa de reis, artistas e milionários. Ruas e praças do aristocrático bairro eram mansões elegantes e confortáveis. A praia encantadora tinha chalés e mais chalés bonitos, habitações familiares de primeira classe, luxentas, convidativas. No máximo de dois pavimentos, o térreo e o superior. Não se via um só edifício de APARTAMENTO, em lugar algum da antiga capital do Brasil. Para a vitória dos rebeldes em 1930, com Getúlio Vargas à frente do movimento tenentista, vendeu-se o Brasil aos Estados Unidos. Iniciava-se de pouquinho, a civilização dos enlatados, dos salgadinhos, da roupa feita, bem assim dos APARTAMENTOS; nos quais nascem as crianças já prisioneiras dos pequenos espaços para o engatinhamento e crescem de bundinhas feridas nas quinas dos móveis espremidos em salas reduzidas. Civilização do APARTAMENTO, ou APERTAMENTO, como lhe chamou humorista nacional. Quem não se lembra da marchinha publicitária dos remados fins da década de 30? Era assim:

   Se você fosse sincera,
   Ò... Ò... Ò... Ò... Aurora,
   Veja só que bom que era
   Ò... Ò... Ò... Ò... Aurora...
   Um lindo apartamento,
Com porteiro e elevador
E ar refrigerado para os dias de calor,
   Madame antes do nome,
   Você teria agora,
Ò... Ò... Ò... Ò... Aurora...

E em Teresina? Que dizer dos nossos apartamentos? Chegaremos cá, na próxima lição.

A. Tito Filho, 26/09/1989, Jornal O Dia 

sábado, 24 de setembro de 2011

BOM AMIGO

Todos conheciam em Teresina. Técnico competente e afamado. Veio da terra do nascimento, Portugal, antes da 1ª Grande Guerra, e fixou-se em Belém. Depois, contratado pelo Governo do Piauí, assistiu no interior piauiense, município de Oeiras, para montar máquinas de fabricação de laticínios. Por muito chão - Pará e Terra de Mafrense - gastou dez anos de vida, a partir de 1912, e escolheu a Chapada do Corisco, a cidade fundada por Saraiva, para em 1922, nestas bandas brasileiras, passar a residir, com oficina de funilaria, até viagem derradeira, no ano da graça de 1953 - a viagem sem bilhete de volta. Trinta e um anos de xodó e de amigação coma comunidadezinha simples e humilde, a que ele oferecia a constância de gestos de afeto, socorrendo os velhos com dinheiro e refeições.

Chamou-se Pedro Antônio Maria Fernandes, conforme o assento de cartório. Ao chegar ao Brasil, as autoridades viram a palavra Pedro entre parênteses no final do nome todo, e não quiseram que ali estivesse o antenome ou pronome. Não corrigiu o equívoco. E Pedro ficou como designativo de família.

Antônio Fernandes Pedro exercia a indústria e o comércio numa casa do centro de Teresina, esquina com o antigo Banco do Brasil, na rua Eliseu Martins, perto da praça Rio Branco. Era um prédio baixo, atijolado, bem limpo, em que o dono tinha também o teto agasalhador. Num dos lados, o que dava para a rua Barroso, havia a loja de venda dos objetos por ele fabricados - e aí se reuniam os comandantes intelectuais do meio, de manhã e de tarde - e como Antônio Pedro lhes apreciava a convivência diária, para o cafezinho e a boa prosa ilustrativa, alegre e folgazã. Esmaragdo de Freitas, Cromwell Carvalho, Mário Baptista, Higino Cunha, Celso Pinheiro, Martins Napoleão, Pedro Brito, Cristino Castelo Branco, Luiz Mendes ribeiro Gonçalves, Simplício Mendes, Benjamim Baptista, Álvaro Ferreira, Arimathéa Tito, Artur Passos e muitos outros - magistrados, médicos, poetas, historiadores, políticos, gente fina, fizesse sol ou deixasse de chover, não dispensavam o bate-papo com o funileiro, do modo que afetivamente era chamado o português de bom caráter e excelente camaradagem, de agudo senso intelectivo, trabalhador, alma feita de fraternidade.


A. Tito Filho, 27/02/1989, Jornal O Dia

NOVA CONSTITUINTE

A 19 de janeiro de 1947, o povo piauiense comparecia nas urnas, para eleger o seu governador (José da Rocha Furtado), e 32 deputados estaduais, que integraram a Assembléia Constituinte. Desde 1945 se vinham organizando partidos políticos de âmbito nacional, com as respectivas secções nos Estados.

No Piauí foram eleitos 17 deputados do PSD, 14 da UDN e 01 do PTB.

Dos Deputados da UDN licenciou-se para exercer o cargo de Secretário-Geral do Estado, Agenor Barbosa de Almeida, substituindo na Constituinte pelo 1º Suplente Tasso Fortes do Rego. Com a anulação de urnas em alguns municípios interioranos, houve eleições suplementares, nas quais o Deputado Milton da Costa Cardoso não conseguiu sustentar o mandato, perdendo-o. Em conseqüência, Tasso Fortes do Rego conquistou definitivamente presença na Assembléia. Para o lugar do representante licenciado convocou-se o novo 1º - Suplente - Antônio Hermenegildo de Assunção.

A instalação da Assembléia Constituinte se deu a 28-4-1947, sob a Presidência do desembargador Odorico Jayme de Albuquerque Rosa, presidente do Tribunal Regional eleitoral, e a esta sessão inaugural apenas não compareceu o Deputado José Burlamaqui Auto de Abreu. Eleito presidente da Assembléia o Deputado Epaminondas Castelo Branco. Os representantes populares deram posse, à tarde, ao governador eleito pela União Democrática Nacional - José da Rocha Furtado.

Adotado na Assembléia O Regimento Interno da Assembléia do Ceará com os votos contrários da bancada da União Democrática Nacional.

Em 1947, foi criado o Diário do Poder Legislativo,d e curta duração.

Ainda em 1947, foi criado o diário do Poder Legislativo, de curta duração.

Ainda em 1947, desde o início dos trabalhos constituintes e da posse do governador Rocha Furtado, manifestou-se profunda e grave divergência entre os dois poderes - Legislativo e Executivo, aquele com maioria de deputados (Partido Social Democrático e Partido Trabalhista Brasileiro) e este apoiado pela UDN e pelo deputado do PSD, José Burlamaque Auto de Abreu. Foram intensas as paixões partidárias e violentas as manifestações verbais na Assembléia e os escritos violentos na imprensa. O governante assinou muitos atos de transferência de adversários, de município para município, o que mais irritou os chefes do Partido Social Democrático. Baldados os esforços de pacificação partidária.


A. Tito Filho, 25/11/1989, Jornal O Dia