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domingo, 11 de setembro de 2011

MAGISTÉRIO

Fiz quase todo o curso secundário no velho e querido Liceu Piauiense. Aulas de manhã e de tarde. Bons mestres, cultos, capazes, dedicavam-se fielmente aos deveres. Raramente havia queixa sobre professor gazeteiro ou embromador. É verdade que a didática e a pedagogia estavam ausentes do processo de aprendizagem. Mas os alunos, bem orientados, estudavam e aprendiam. Recordo-me dos meus tempos de estudante e dos títulos das disciplinas, sérios, ilustrados, corretos de atitudes, merecedores do apreço e da consideração da sociedade. Permaneceram na memória dos alunos da época os nomes de João Pinheiro, Benjamin Baptista, Anísio Brito, Joaquim Nonato Gomes (padre), Martins Napoleão, Edgar Tito, Raimundo Area Leão, Mário Batista, Moisés Pereira dos Santos, Agripino Oliveira, Francisco César Araújo, Álvaro Ferreira, Júlio Vieira e tantos outros, que deixaram exemplos na história do mais famoso educandário piauiense.

Anos depois, ingressei no magistério. Convivi com os sacrifícios da classe. Vencimentos magérrimos. Para o sustento próprio e da família o professor trabalhou muito, suava, nunca desfalecia das obrigações e os princípios da profissão. Ganhava-se quase nada por aula excedente. não me lembro de colega que gozasse do conforto do automóvel. Os colégios ao menos geladeira possuíam. Tive admiráveis companheiros, como Valdemar Sandes, Nelson Sobreira, James Azevedo, Lisandro Tito de Oliveira, José Eduardo Pereira, Luiz Lapa, Tomaz Arêa Leão Filho, Omar dos Santos Rocha, Petrarca Sá, Cunha e Silva, Helena de Greslan, Afonso Elvas, Odilo Ramos, Barreto Cordeiro, Clidenor Freitas Santos, Amália Pinheiro, Machado Lopes e quantos outros que a memória não lembra no momento, e que sempre mereceram os aplausos da juventude estudiosa.

No tempo em que fui nomeado para lecionar português, o bom Liceu se chamava Colégio Estadual do Piauí. Convocou-me o governo e me confiou a direção do estabelecimento. Lutei por melhores dias dos meus colegas e consegui que tivessem substancioso aumento, na primeira revisão geral de vencimentos proporcionada pelo governador Gayoso. E mais: o professor tinha a obrigação de ministrar apenas 40 aulas por mês em cada cadeira. A aula excedente tinha paga especial.

Duro o regime. Trabalho intenso e produtivo. Aprendia-se. Milhares e milhares de moços e moças são agradecidos aos mestres pela oportunidade que tiveram de aprimorar a inteligência. A sociedade piauiense reverenciava os professores notáveis duma época em que o magistério se exercia com rigoroso preparo de cada um para o processo educacional. Era bom.

OBS: no último comentário sobre Ofélio Leitão saiu CULTURA HUMORÍSTICA. Mas escrevi CULTURA HUMANÍSTICA.


A. Tito Filho, 22/06/1989, Jornal O Dia

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