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domingo, 4 de setembro de 2011

A ESTRADA DE BARRO

"Imaginação fértil embasada no grande acervo de conhecimentos a que já nos referimos, a distribuição temática por vezes se atropela levando a flutuações da ideação fantástica, levando a flutuações da ideação diretora, tal ocorrência seria imperdoável num escritor de carreira - que este teria a obrigação de disciplinar a sua escrita no apuro da técnica estilística segura e simplificadora; no caso em apreço, não necessariamente; até porque o estilo, na sua essência espontânea de intimismo, é agradável: ameno ao propósito, singelo no sentimento lírico sem chegar ao pieguismo.

O romance de José Fortes de Vasconcelos, apesar dos senões apontados, é bom - se o leitor é culto e não liga para detalhes técnicos de metodologia; ele consegue despertar empatia entre leitor e personagens que vivem amadurecidamente a oportunidade do desprendimento fenomenológico do amor cristalizado sem os excessos da paixão; um amor de terceira idade, diríamos, que permite vivenciar a poesia despida da alienação de uma realidade filosófica da integração do homem com o meio ambiente. O leitor viaja com os personagens e se vê estimulado a participar dos seus encantamentos.

O autor, aliás, é coerente consigo mesmo; consciente do que queria fazer e fez: um depoimento de vida preocupada com o destino dos que nada conseguem apesar das tentativas, atingindo a desesperança ou reprimindo neuroticamente as agruras duma realidade niilista que, como último recurso, recusamos a aceitar e, sem outro apelo, nas asas da imaginação ou dos sonhos, quebramos as limitações que nos são impostas, numa fuga da angústia existencial. É o grito do homem Kafkiano, procurando restar-se a si mesmo para não sufocar no labirinto dos equívocos.

Enfim: desprezemos o detalhe metodológico; apeguemo-nos à essência de A Estrada de Barro, e teremos sem dúvida a escrita certa por linhas tortas, o ilogismo da sabedoria humana que nos conduzem ao fim último da loucura divina que se chama felicidade".

OBS: Esta é a segunda parte do excelente trabalho do acadêmico Humberto Guimarães sobre o livro de José Fortes de Vasconcelos.


A. Tito Filho, 23/09/1989, Jornal O Dia

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