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terça-feira, 20 de setembro de 2011

MOLECAGEM

Na década de 40, a Caixa Econômica era pobre. Vivia de penhorar jóias e outros objetos, bem assim de empréstimos pequenos e juros baixíssimos pelas quais a gente recebia rendimentos mensais. Tinha o nome de Banco do Povo.

Um dos candidatos à presidência da República, na conformidade de propaganda televisiva, promete liquidar a molecagem vigorante nesse país. Trata-se do deputado Ulysses Guimarães, que está de poucas intenções nas pesquisas de voto. Caso seja eleito, porém, só por milagre varrerá do Brasil a molequeira em que a Nação cada dia mais se afunda.

A Caixa Econômica é financiadora das favelas teresinenses, as desumanas casas populares que se espalham por essa tristíssima outrora encantadora Teresina. Delas existe um tipo, denominado EMBRIÃO, que representa uma afronta às pobres criaturas de Deus.

Abriram-se inscrições faz algum tempo para as habitações miseráveis desses conjuntos favelados. Muitos, centenas, se inscreveram e pagaram a taxa respectiva, que os banqueiros oficiais embolsam sem a mínima cerimônia. E os inscritos ficaram à espera de um sorteio, que se realizou para tormento e angústia de imensa fila dos desprezados por um sistema de perversidades.

Que aconteceu? A Caixa Econômica, por intermédio do seu agente denominado Companhia de Habitação do Piauí, exigiu comprovação de renda estabelecida por esse banco federal explorador da jogatina e de juros astronômicos. Muitos não puderam oferecer os rendimentos exigidos, pois, servidores estaduais, o próprio Estado lhes paga quase apenas um terço do salário vigente. Outros tantos, com dois empregos, um público outro privado, foram recusados, sob alegação de que empresas e instituições concediam falsas declarações de renda, imputação criminosa por parte da Companhia de Habitação e da Caixa Econômica Federal.

Conheço caso em que forneci recibo de percepção de salário na entidade que dirijo e o documento foi recusado, prejudicando - se a humildade servidora sorteada.

A Caixa Econômica Federal acha pouco o desrespeito aos contratos da casa própria, os cálculos enganosos para arrancar mais dinheiro das vítimas, os juros inconstitucionais e aviltantes cobrados, o imoral sistema de penhor de bens, a jogatina no Brasil inteiro por ela patrocinada, as imorais casas populares que financia para maior humilhação dos patrícios - e ainda recusa documentos de renda passados legalmente, para insultar a pobre família piauiense. Uma molecagem.


A. Tito Filho, 20/10/1989, Jornal O Dia

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