Quer ler este texto em PDF?

terça-feira, 6 de setembro de 2011

EDUCAÇÃO

Ninguém nega que houve a inchação populacional e que o ensino secundário público, a partir dos anos 50, começou, como dizem, a democratizar-se, ou teve as portas abertas a ricos e pobres, inclusive com a criação, para comerciários e filhos de operários, dos cursos noturnos. As escolas oficiais preparavam intelectualmente o estudante. Nomes ilustres e acatados constituíam o magistério responsável e conhecedor das disciplinas dos seus encargos, salvo as raríssimas exceções que recebiam o desprezo dos alunos e da família. A decadência da escola secundária, de modo geral, progrediu na década do chamado desenvolvimento kubistschekiano, quando a tarefa de educar passou aos estabelecimentos privados, que, naturalmente, tinham no lucro financeiro um dos objetivos dos seus proprietários. O preconceito social fez que os alunos ricos não aceitassem a convivência com os pobres e só a aceitassem com os negros ricos, numa revoltante e ainda persistente discriminação racial. Os baixos e injustos vencimentos dos mestres afastou-os do magistério. Havia profissões mais seduzentes pelos honorários obtidos num trabalho menos cansativo. Nos adolescentes e nos jovens pouco a pouco se matou o processo da leitura dos velhos tempos quando, nas aulas de português, os estudantes conviviam com a excelente prosa e poesia de autores nacionais. A revolução moça de 1968 em Paris aniquilou a família e os processos educacionais. Empacotaram-se os princípios didáticos e pedagógicos. A televisão fez o resto, convocando os educadores para o erotismo, para a violência, para o desrespeito ao civismo, juntamente quando faz mau uso da  língua pátria e orienta o homem para hábitos nocivos de existência.

Em 1971, Jarbas Passarinho pratica mais uma reforma do ensino secundário. Cria os cursos profissionalizantes de segundo grau. Extingue o exame de admissão ao ginásio, para tornar, segundo a pregação, mais acessível a escola. Primarizou-se o curso ginasial. Os colégios particulares haviam sugerido o dístico pagou, passou. A decadência desastrosa patenteou-se ainda mais com a desqualificação do professor. A princípio, nos anos 60, palidamente se mostrava a face desqualificada do magistério, e com o correr dos tempos o fato se deu paulatina e constantemente. Os mestres de hoje abandonaram a leitura e são quase inteiramente desprovidos do elementar preparo de conduzir com segurança a inteligência da juventude. Existem pelo Brasil ainda grandes nomes do corpo docente, poucos, é verdade. As fábricas de professores pelas universidades arruinou quase por completo a profissão de ensinar. Ninguém de sã consciência nega o direito de grave, mas o abuso dessa prerrogativa está-se tornando enervante e repudiada por alunos, pais e pela sociedade em geral. As exigências de salários mais altos pela greve, na freqüência com que se verifica, causa prejuízos de toda ordem sobremodo ao jovem brasileiro. Haverá um jeito de a lei fixar que a remuneração deve subir toda vez que houver aumento de custo de vida, que as próprias entidades oficiais apuram. Arrocho salarial corresponde a estupidez. Se não é possível congelar preços de gêneros de primeira necessidade, menos aceitável será sufocar o homem pela fome e pelo desespero.

Espantosas são as decepções da juventude brasileira na escola. Agora um dos heróis do civismo nacional, o Tiradentes, cuja memória se homenageava todos os anos no dia do seu enforcamento, 21 de abril, revoltado viu que anteciparam o seu sublime sacrifício para uma segunda-feira qualquer. A juventude já não tem ao menos oportunidade de cultivar os que, pelo Brasil, padeceram a vileza da força.


A. Tito Filho, 19/06/1989, Jornal O Dia

Nenhum comentário:

Postar um comentário