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sábado, 17 de setembro de 2011

SAUDADE

É velho e falso o estribilho de que a palavra SAUDADE só existe na língua portuguesa. Ainda hoje lutam os pesquisadores por dar a SAUDADE origem verdadeira. O professor Silveira Bueno - "A Formação Histórica da Língua Portuguesa" - dedica-lhe três ou quatro linhas: “...a famosa palavra SOIDADE, também escrita SUIDADE, de SOLITATEM, de que tiramos a forma atual SAUDADE”.

Figueiredo filia-se em SOLEDADE, alteração de soidade. O "Dicionário Prático" (Mesquita de Carvalho) registra idêntica opinião. Nas "Curiosidades Verbais", João Ribeiro insurge-se contra solitatem, e explica: é difícil tirar saudade de solitatem. A queda do I intervocálico, o que sempre ocorre, daria soidade. O ditongo au latino transforma-se em ou ou oi (ouro e oiro, de aurm). O que não se observa é a evolução de oi para au. Não pode admitir-se que soidade haja dado saudade. E oferece aos curiosos esta hipótese, apoiado sobre estudos de Ragy Basile: "a palavra saudade tem origem árabe".

Eis o que ensinou o professor Ragy: "em árabe há três expressões que lembram a palavra saudade: suad, saudá e suiadá. Tem o sentido moral de profunda tristeza e literalmente o sangue pisado e preto dentro do coração. Na medida ASSAUDÁ é uma doença do fígado que se revela pela tristeza amarga e melancolia. Os árabes dizem QUALATNI AS ASUIADÁ (matou me a saudade). E isto quando a pessoa entristece pela perda de um ente querido. E dizem igualmente: AL-MUS-SUAD-DAT (os dias pesados e de tristeza)".

Tenho conta de mais acertada a lição de Nascentes e Carolina Michaelis: "Saudades vem do latim solitatem, que deu o arcaico soedade, soidade, suidade, que sofreu a influência de saudar".

Saudade é privilégio da língua portuguesa? Não. Na página 197 das "Curiosidades", João Ribeiro escreveu: "Há, talvez, excesso na exclusividade desse talismã nacional".

Muita razão teve o mestre na assertiva. Michaelis provou que existe plena concordância entre saudade e os vocábulos LANGTAN (sueco), SEHNSUCHT (alemão).

No romance há a palavra DOR, que, como a portuguesa, veio do latim dolorem. Em romeno emprega-se DOR no sentido moral. Para a dor física existe DURENE (durere de cap - dor de cabeça).


A. Tito Filho, 27/08/1989, Jornal O Dia

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