Quer ler este texto em PDF?

terça-feira, 20 de setembro de 2011

NECROTÉRIO

Em português há considerável número de palavras provenientes do grego antigo, sobretudo na linguagem cientifica e no batismo de novas invenções do homem; cardiologia, estomatite, geografia, hipopótamo, quiromancia, telefone, para citar alguns exemplos. Existem casos raros de uso de elementos gregos para que se substituam palavras de outras línguas, como se verifica com NECROTÉRIO, neologismo criado pelo Visconde de Taunay, autor do célebre romance "Inocência", para substituir a francesa MORGUE, que se empregou até o século passado.

Em princípios de 1872 - escreveu Taunay - o dr. Ferreira Viana teve a idéia de fazer remover o depósito de cadáveres da ladeira da Conceição, de um quartinho escuro e indecente, para lugar e construção mais apropriado àquele caridoso fim. Nessa ocasião procurou ele alguma palavra que, concisamente, denominasse o lúgubre albergue, rejeitando a nacionalização de morga, que foi proposta e até apareceu por algum tempo em jornais.

Taunay aceitou, a pedido do Dr. Costa Ferraz, amigo de Viana, a incumbência de criar o substitutivo.

Dou a palavra ao autor de "Inocência":

Guiou-me afinal, e bem, a bela palavra cemitério, introduzida pelos padres da Igreja na baixa latinidade. Como é formosa, com efeito, e expressiva! Vem do grego coimeterion e significa das proteção ao sono. Estava achado o procurado neologismo, ajudanto-se tereo (projeto) e necros (morto). Eliminando-se os de necros, cheguei facilmente a necrotério".

Para Nascentes cemitério é dormitório. Apóia-o Bernardes: "Ao adro chamamos cemitério, palavra grega que vale o mesmo que dormitório".


A. Tito Filho, 21/12/1989, Jornal O Dia

Nenhum comentário:

Postar um comentário