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terça-feira, 6 de setembro de 2011

VELHOS TEMPOS

Meu pai e Eurípedes Aguiar muito se estimavam. As vicissitudes de vida e os deveres da solidariedade estabeleceram entre ambos sólida amizade, que os anos não arrefecem, antes aprofundaram - e o fato fez que eu tivesse no incontestável comandante um amigo certo, a quem ofereci admiração e respeito. Com a subida de Rocha Furtado ao governo, as figuras mais ativas de "O Piauí", Eurípedes, Martins Vieira e Ofélio, receberam cargos oficiais como auxiliares da administração que se inaugurava. Afastaram-se do jornal, cuja direção Eurípedes me entregou, e pude desempenhá-la com leal observância dos princípios partidários. Transmiti-a, de ordem, ao poeta José Severiano da Costa Andrade.

Em maio de 1947 tive nomeação como delegado de polícia da capital. Por esta forma passei a trabalhar com Eurípedes, chefe de polícia, - e nas funções me conservei até dezembro do mesmo ano.

Privei com Eurípedes no jornal e nos encargos de xerifado. Dele recebi conselhos e proveitosas lições de experiência. Nunca o vi covarde, nem prevalecido de prestígio para perseguir ou humilhar. Uma feita me ensinou que a gente não deve gastar tempo, tinta e papel para se defender de ataque inimigo pelo jornal. Antes se ataca com mais violência o diatribista.

Eurípedes não tinha ódio a ninguém. Apenas - me contou certa vez - nunca perdoaria a maldade que certo cidadão lhe fizera, desnecessariamente. Jamais o havia perseguido, mas nunca praticaria gesto que o beneficiasse. Quando Rocha Furtado pretendeu premiar essa conhecida figura, Eurípedes, como secretário geral do Estado, recusou-se a assinar o ato. Não houve o benefício. Disse-me Eurípedes: "Esperei-o anos a fia, detrás do pau, cacete em punho. Chegada a hora, dei-lhe a cacetada merecida".

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Era doutor em assentar apelidos gostosos e sarcásticos nos adversários: Soim da Prefeitura, Cascavel de Quatro Ventas, Carregador de Piano - e outros que depressa caiam no agrado popular e se tornavam obrigatórios nas palestrações de praça e na linguagem debochativa dos jornais. Para que se compreendam essas irônicas alcunhas torna-se necessário conhecer as personagens que elas batizam, pois os ditos se ajustam ao modo de ser de cada um.

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De igual modo, processava-se a vingança adversária. Poucos homens públicos tiveram tantos batismos grosseiros e jocosos como ele: Urso Branco, Euripão, Macacão dos Matões, Gostosão da Vicença, para citar alguns.


A. Tito Filho, 18/10/1989, Jornal O Dia

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