Quer ler este texto em PDF?

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

ATUALIDADE

O primeiro centenário da República foi comemorado com o retorno às urnas, para a eleição presidencial abolida do país com o movimento militar de 1964, ferindo-se o último pleito a 3 de outubro de 1960. Mais de oitenta milhões de brasileiros estavam inscritos para o exercício do direito e do dever de votar.

Seria exaustivo relacionar todas as lutas no Brasil. A grande revolução Industrial do principio do século XIX provocou profundas transformações na sociedade dos homens. A máquina tornou-se responsável pelo poder industrial, que desorganizou a família, baseou a riqueza das nações no combustível, comercializou o afeto e derribou estruturas seculares.

O Brasil não poderia fugir de sua influência e da instituição da República até o país vive com instituições instáveis. O ciclo dos movimentos militares, incentivados por civis, ainda não se extinguiu. O povo, na sua quase totalidade, participa dos desequilíbrios sociais impostos pelo que o exploram, e se entregam cada vez mais ao desespero e à desesperança. A fome sufoca o civismo e provoca violência. Não existem processos humanos de vida - e a nação só encontrará rumos tranqüilos quando se abdicar do inumano pela valorização do homem.

A máquina dividiu os países em ricos e pobres, exploradores e explorados - e assim se repartiram os dominadores e os dominados, os que mandam e os que obedecem, criando-se o cruel imperialismo que tantos males têm acarretado ao Brasil, cujas riquezas pouco lhe pertencem, mas apenas beneficiam grupos e trustes gananciosos.

As leis se fazem na conformidade de interesses de nacionais espertos e estrangeiros subordinadores. A nação começou, cedo, o processo de deterioração com mandonismo dos sobas e de agentes do poder. Nas polícias estaduais se encontram os mais cruéis facínoras, para que sufocam rebeldias e castrassem recalcitrantes - e daí os primeiros protestos sérios contra a miséria e o abandono, como o de Antônio Conselheiro, na Bahia, e o de Virgulino Ferreira, o cangaceiro que pôs o Nordeste à mercê dos rifles e dos punhais da cabroeira.

A América do Norte espreitava a recente República brasileira e logo agiu para dominar-lhe o mercado. Mal saída do sufoco financeiro de 1929, em que os norte-americanos apoiaram a quartelada de 1930, de que participaram jovens idealistas e velhas raposas. Criou-se a ditadura de fato e que durou praticamente até 1945, com a imprensa amordaçada, a inauguração, no consulado de Getúlio, de uma era nova, a dos corruptos e dos corrompidos, à sombra do feroz regime instituído em 1937.

O governo saído das urnas de 1945 entregou, de mão beijada, as divisas brasileiras ao grande parceiro, os Estados Unidos. Reconduzido ao governo pelo voto, Getúlio pretendeu reagir contra o beneficiário das angústias nacionais - e a corrupção atingiu o mar de lama e as forças imperialistas derribaram o presidente pelo suicídio. A nação prosseguiu, já combalida e doente. Sugaram-lhe todas as economias para a construção de Brasília. Iniciou-se o abandono do ensino. Mais uma vez golpeou-se o sistema constitucional, criando-se a ditadura militar de vinte anos, que elevou a dívida externa a grandes alturas.

Criaram duas elites cegas, a política e a empresarial, que a nada cedem, ao menos ao clamor da miséria. O país vive a confusão em todos os seus setores. A 15 de novembro de 1989, o povo brasileiro esteve nas urnas - e com os resultados mostrou que sabe votar, pois eliminou da Presidência da República todos os que partilharam destes tempos em que tudo no país se deteriorou por culpa da irresponsabilidade e da ganância.


A. Tito Filho, 17/12/1989, Jornal O Dia

Nenhum comentário:

Postar um comentário