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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O VELHO EÇA

Dia 21 de maio, domingo, um dos nossos coleguinhas de jornal de Teresina publicou na apreciada coluna de sua responsabilidade, com o título de MULHERES, a nota seguinte: "A Academia Piauiense de Letras vai criar um Núcleo Feminino, para abrigar as viúvas dos imortais. Vem a ser mais um desses grupos de senhoras que reúnem para tomar pomposos e nutritivos chás".

O coleguinha reconhece a existência em Teresina de grupos de senhoras cujas reuniões se destinam a POMPOSOS e nutritivos chás, chás de muito luxo, de ostentação. Essas senhoras parece que vivem de vagabundagem e estroinice, conforme atesta o confrade inteligente.

Conheço profundamente a história da Academia Piauiense de Letras e até hoje, desde a fundação da entidade, nos idos de 1917, até estes últimos dias de maio de 1989, nunca, jamais, em tempo algum se cogitou de criar na Casa de Lucídio Freitas NÚCLEO FEMININO nenhum, quanto mais de viúvas de imortais, pessoas de respeito, idosas, de reputação ilibada, que não se prestariam a reuniões para chás POMPOSOS E NUTRITIVOS.

Lembrei-me do grande Eça, do seu tempo de jornalismo em Lisboa. O famoso romancista de O PRIMO BASÍLIO certa feita chegou a redação do jornal em que escrevia. Não levava assunto para o artigo. Estava pobre de novidades. Perguntou aos colegas de trabalho, redatores, e noticiaristas, quais os fatos importantes ocorridos e que pudessem ser aproveitados num comentário. Nada se havia passado merecedor das análises do grande escritor. Verificaram-se apenas episódios corriqueiros. Nenhum erro, nenhum acerto do governo. Eça pediu o nome de um rajá da Índia, um rajá qualquer daqueles tempos, ou de um chefe de taba africano. Obteve-o e no pobre diabo titular do mando em distante pedaço do mundo passou brutal descompostura, como cruel assassino, ladrão dos dinheiros públicos, corrompido e corrupto.

Circulou o jornal com o artigo duro, mas esquisito. Os amigos perguntaram a Eça sobre o sujeito tão rudemente atacado, e onde ele obtivera as informações para o artigo. O jornalista e escritor respondeu no meter das buchas.

- Não sei de quem se trata. Sei que ele salvou a minha falta de assunto.

Jornalista de Teresina, quando não tem novidade ou notícia para preencher coluna, faz como Eça. A diferença está em que aqui o BODE EXPIRATÓRIO se chama Academia Piauiense de Letras.


A. Tito Filho, 30/05/1989, Jornal O Dia

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