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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

CREMAÇÃO - II

No Brasil, o velório, as vestes do defunto, a palidez cadavérica, tudo isto transmite sensação de pavor aos familiares e aos circunstantes. Dizem que o brasileiro tem a mania de imitar o norte-americano. Imita-o até no mastigamento de goma, marca registrada, o chiclete. Mas imita-o no que não deve, e deixa de imitá-lo no que seja bom. Pois o povo dos Estados Unidos faz idéia diferente da morte. Por toda parte, lá, existem as funeral homes, prédios, antes de mais nada, simpáticos, a que se refere Carlos de Alcântara, que morou na terra do esperto Tio Sam: "O cliente (o morto) é trazido numa Limusine grande, toda fechada, discretamente. Numa sala dos fundos, um especialista, diplomado, auxiliares que de certo já trabalharam em salão de beleza, dão-lhe aspecto apresentável, composto e de longa duração. Em seguida, passam-no para uma sala de estar, confortável, sobriamente ornamentada, onde ele fica descansando por dias, antes da viagem final. Ao lado, num cômodo separado, a família se reúne com os amigos, para contar como foi. Na data marcada, lá vai ele de novo na Limusine, seguida de vários carros particulares, todos de faróis acesos...".

Tem o norte-americano horror às cousas mórbidas, e esse horror o leva a esconder "imagens e idéias que lembrem a morte e a doença".

Leiam o depoimento de Érico Veríssimo: "Os remédios se vende nos drugstores, que são belas lojas onde encontramos artigos de perfumaria, sanduíches, comidas quentes, bebidas em álcool, doces, revistas, jornais... O balcão das drogas está escondido no fundo da casa. Os cemitérios são verdadeiramente parques. Os defuntos são entregues a empresas funerárias, que se encarregam de todas as cerimônias fúnebres. Os amigos do morto comparecem, tomam um coquetel num silêncio alinhador ou numa conversa discreta, e tudo se processa sem alvoroço. Não encontrei durante toda a minha viagem uma única pessoa de luto fechado. Outra cousa curiosa: há cemitérios que fazem anúncios como se fossem teatros, parques de diversão ou artigos de toucador. Na Califórnia existe um cartaz em frente à porta central um letreiro colorido... Encontro na revista, entre os anúncios de cabarés, duas páginas com a fotografia do cemitério-parque".

Melhor queimar ou enterrar o sujeito que entregou o couro às varas?


A. Tito Filho, 24/04/1989, Jornal O Dia

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