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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

PAÍS PERDIDO

Esposas, filhos, sogras, genros de membros do Poder judiciário, do Legislativo e também do Executivo abarrotam-se no tesouro do país, dos Estados e dos municípios. A vida se resume no gozo ilimitado de poucos. Desfalques milionários se verificam a todo instante. Há um treinamento geral para a esperteza dos chefes. A nação subvenciona o ensino particular, e enquanto professores passam fome, donos de colégios adquirem propriedades, e enriquecem por conta do sacrifício alheio. Empresários protegidos e felizardos dos donos do poder contratam obras e serviços por valores decuplicados. Fomenta-se a malandragem generalizada com os feriadões e o desprezo dos que cumprem o dever. Os titulares poderosos sustentam amantes exigentes. Poucos ricos desfrutam de enormes estroinices e gastos amorais, noitadas onde se gastam milhões, festas retumbantes, banquetes. Desperdiça-se em madrugadas festivas. O uísque estrangeiro rega verdadeiras bacanais. Milhões e milhões de brasileiros, porém, vivem cobertos de andrajos, famintos, em moradias miseráveis e desumanas, enquanto os banqueiros sugam quarenta por cento de juros dos humildes necessitados. O lucro fácil sugere a ociosidade. Os grandes tomam a propriedade dos pequenos, perseguem, violentam meninas donzelas. A televisão destrói lares e embrutece a juventude, em nome da ganância publicitária. Que fazer? Recorre-se simplesmente à violência e a traficância de drogas, os meios de que usam os desgraçados para castigar os desalmados das riquezas roubadas. A violência se pratica e a droga se vende a nababos, aos ricos, aos grandes ladrões de gravata branca. Só se conserta o Brasil com a justiça social efetiva, com a punição dos verdadeiros culpados, com a mensagem do trabalho, da vida familiar digna, da diversão sadia, liquidando-se a concepção de que o status social se faz pelo dinheiro, - o que leva o miserável a luta por ele, matando e viciando os gozadores da vida.


A. Tito Filho, 21/07/1989, Jornal O Dia

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