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terça-feira, 20 de setembro de 2011

MATERIAL

Recordo que no ano passado, neste canto de página, escrevi que antigamente as mães viviam em casa, amamentando os pequerruchos e, depois, orientando-lhes os estudos. Hoje a mulher vive fora do lar e as crianças, adolescentes e jovens entregues exclusivamente à escola à beira da falência, diferente da escola antiga em que se estudava e se aprendia, sem as exigências de hoje, essas modernices e modernizamentos dos dias correntes. Os estabelecimentos de ensino pertenciam quase todos ao governo, alguns particulares, todos ao governo, alguns particulares, todos de professores famosos, capazes, sérios, respeitados. Mestres que fizeram história e educação.

Acrescentei que quase os estudantes não gastavam com material escolar. A escola tinha dois níveis, o primário e o secundário. Como as mães vivem nas ruas, surgiram o curso maternal, o jardim, a alfabetização, primeiro e segundo grau, tudo de negócios particulares, pois os oficiais oferecem péssimas condições.

As escolas particulares, porém, reclamavam elevados preços de dinheiro e exigências absurdas de vários cadernos, coleções de madeira, hidrocor, figurinhas, resmas de chamex, tesourinhas e tesourões, rolos de papel higiênico, absorventes para as mulheres de idade respectiva, papel de estêncil, lencinhos de papel, toalhas, escova de dente, pasta, sabonete, desodorante, roupa de banho, pincéis, tintas, grampos, massa de modelar, cartolina, papel camurça, papel de seda, isopor, durex, cola, apontadores, colecionadores, álcool, borrachas, copo de alumínio, copos descartáveis, merendeira, novelos de lã, agulhas, giz colorido e mais que seja. Ainda as contribuições para as festocas e para o aniversário do querido diretor.

Pobre país. Infeliz gente. Da relação acima, não constam as dúzias de livros que custam os olhos da cara. Também não figuram os pagamentos mensais e os reajustes, sempre a critério dos inócuos conselhos estaduais de educação, cujos membros, as mais das vezes, tem filhos que estudam de graça.

Aí por fora já existem escolas de 1º e 2º exigindo CAMISINHAS de variado comprimento e diâmetro para os jovens. Ainda bem.


A. Tito Filho, 25/03/1989, Jornal O dia

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