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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O TEATRO QUERIDO

Era bom. Eu não havia nascido ainda e no Teatro 4 de Setembro teve início a HORA ARTÍSTICA FAMILIAR, uma beleza de programa, aos domingos. A 31 de julho de 1921, nessa última e mais gentil manifestação da arte entre nós, como dirigia Higino Cunha, a talentosa Durcila Batista, entre outras senhoras ilustres, interpretou A TRAVIATA no bandolim. Muitos outros espetáculos se seguiram. Depois outra denominação teve essa magnífica convivência espiritual da sociedade teresinense: HORA DE ARTE, cujas representações dominicais, pelas dez da manhã, eu aplaudia e delas a memória não pode esquecer, tamanha a graça das garotas e a segura direção musical das senhoras participantes. Momentos inapagáveis deixaram na gente saudades que só a morte tem o condão de apagar. Na minha lembrança permanente se encontram Maria Lúcia Pereira da Silva, Rosilda Brito, Amariles Carvalho, Aurora Fonseca, Janete Parentes, Edelweiss Carvalho, Maria Celeste Silva, Jandira Gomes, meninas bonitas do nosso tempo. A SERRA DA MANTIQUEIRA na voz de Candinha Lustosa não me sai do pensamento. E o contrabaixo de Carlindo Andrade? E a dedicação das damas Zelinda Parentes, Adalgisa Silva, Lili Castelo Branco, Beatriz Paz, Anita Gayoso, Maria Luisa Oliveira na organização desses encantadores instantes? Em 1934 dançaram e cantaram no Teatro meninas educadas e esbeltas, do naipe de Lígia Martins, Doris Oliveira, Maria Alice Rebelo, Genu Aguiar, Maria Haidine Albuquerque, Ivone Bandeira, Aladi Santana. Algum tempo depois, outras garotas mimosas arrancavam palmas: Iracema Freitas, Laís Arêa Leão, Flora Resende, Haidê Melo, Maria de Lourdes Ferreira, Maria Cristina Cruzes, Têmis Soares, Ester Carvalho, Gardênia Carvalho, Maria de Lourdes Portela, Lilizinha Castelo Branco. O velho Teatro ouviu a flauta de Agripino Oliveira, o violão de Alcides Gomes da Silva e o violino mágico de Moura Rego. Nele declamou Celso Pinheiro e Higino Cunha fez oratória de homem culto.

Era bom. A sociedade teresinense possuía preocupações com a arte. A diversão de todos tinha o lado alegre, sadio, decente.

Hoje se vive de festinhas, festanças e festocas. Desfiles de homossexuais. Uiscadas. Sofisticações. Hipocrisias. Amizades de dinheiro. Tudo tão frívolo, tão pérfido. Ficou ruim e pervertido. Não se mata a natureza nem se extingue o passado impunemente.


A. Tito Filho, 27/07/1989, Jornal O Dia

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