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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

NAMORO

Um dia destes, assisti a um programa de televisão, em que o jovem secretário da Segurança prestou depoimento sincero a respeito de namoro nas vias públicas. Gostei da fala de Xavier Neto. Nota-se que tem firmeza nas decisões. Não teme crítica de adversários. Revela-se altivo sem arrogância. tem gestos às vezes de muita humildade. Merece aplausos.

Sustentou que nunca proibiu namoro nas ruas e praças de Teresina. Determinou que se impedissem atitudes e posturas de sem-vergonhice, modos pornográficos; safados, não se permitisse a devassidão, como diziam os antigos.

Em Barras, tive um parente casado que não dançava nas festas. Nem com a esposa, pois, segundo ele, com a mulher da gente se dança na cama. Não há necessidade de exibicionismo.

Nos bons e saudosos tempos antigos, havia o FLERTE, uma cousa doce e suave, que muito vigorou nesta Teresina dos anos graciosos e inesquecíveis. Como era bom FLERTAR, substantivo e verbo tomados dos ingleses. O mesmo que NAMORICAR. Nas pracinhas românticas, as meninas rodavam num sentido, os gajos em sentido contrário. E o namoro tinha inicio, ele no olho dela, ela no olho dele, quando se encontravam. Passavam-se os dias até que se dava o primeiro acompanhamento. O indivíduo ENCOSTAVA na garota, e principiava a aproximação mais séria, um compromisso no rumo do noivado. As liberdades recíprocas se davam na quase obscuridade dos cinemas. Nos bailes, os pares se abraçavam num requinte de intenções ruins. Nada além das gostosas primícias do amor.

Rapazes de primeira classe procuravam ambientes mais distantes das vistas das famílias para as conquistas de empregadas domésticas que descambavam em sexo e prenhez, às vezes até processo na Polícia.

As praças de Teresina, hoje, plenas de encantos antigamente, passaram a motéis ao ar livre. De manhã e de tarde os casais de jovens se grudam nos beijos de língua, até nos pátios dos colégios. A partir da boquinha da noite, o marmanjo e a marmanja usam a grama, os bancos, e se atracam, o sujeito mordendo a sujeita, e verificam-se movimentação de corpos sem que os dois mostrem qualquer sinal de reputamento.

Xavier Neto devia fazer como fazia um delegado honesto de meus países de adolescência: pisa de cipó de tamarindo em cada qual. Sem-vergonhezas se fazem na cama, no jirau, na rede ou no chão da choupana. Em motel também. Só.


A. Tito Filho, 28/06/1989, Jornal O Dia

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