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terça-feira, 20 de setembro de 2011

ÍNDIOS

Nos Estados Unidos foi assim. Viviam os índios na paz das selvas, como donos da terra. Eles a habitaram em primeiro lugar. Eram colhedores. Não trabalhavam. Colhiam os frutos que as árvores lhes davam. Comiam a carne dos animais apresados e o peixe das águas opulentas. Não trabalhavam. Faziam sexo, comiam, dormiam. Aventureiros e colonizadores, em busca de riqueza, expulsaram-nos dos sítios dadivosos. As paisagens e virgens foram conquistadas por homens brancos, fortes e rudes, numa luta feroz, de emboscadas e de surpresas. Os índios odiaram os brancos e responderam com a violência. Incendiavam as casas na calada da noite, matando famílias, homens, mulheres, velhos e crianças. Páginas de sangue, sobretudo no oeste.

No Brasil o branco também, com a força das armas fez a liquidação de nações indígenas, por toda parte. No vasto território piauiense, ao tempo do inicio da colonização e dos currais, inexistia qualquer exemplo de disciplina. Era o pânico. E o vácuo. Dias perigosos. A volúpia mortífera das desgraças do meio. Domingos Afonso Mafrense penetrou o Piauí com os seus troços de gente. Contam que o bandeirante Domingos Jorge Velho fez o mesmo. Ambos colonizaram terras, senhores de sesmos e latifúndios. Apareceram os catequistas. O Piauí torna-se cenário histórico empolgante. A riqueza estava no gado e da rês se aproveitava tudo, a carne, os ossos, o tutano, bofes, cascos, couros, chifres, fezes, até o membro genital enorme. Em tudo o bovino, na panela, no cornimboque, nas liteiras, no gibão, nos arreios, nas portas nos calçados. O Piauí enfrentava problemas angustiantes de tardio povoamento, dificuldades de transporte, sem agricultura e sem escolas. E o problema do índio. Havia necessidade de exterminá-lo. Deu-se a matança perversa. João do Rêgo Castelo Branco liquidava todo tipo de índio: feto, recém-nascido, criança, adolescente, moço, maduro e velho. Fêmeas e machos. As peripécias sangrentas desse exímio degolador ingressaram na história. Cumpria ordens dos conquistadores da terra e cumpria-se sem um pitoco de remorso, alegre sempre. Um dos mais admiráveis genocidas da história, el grande matador, da forma que H. Dobal lhe deu apelido.

No Dia do Índio o Brasil e o Piauí deviam ter vergonha do que fizeram com os irmãos sem destino.


A. Tito Filho, 21/04/1989, Jornal O Dia

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