Quer ler este texto em PDF?

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

NATAL - II

Renato Castelo Branco, criador de momentos inesquecíveis de arte verdadeira, concebeu e escreveu esta jóia inimitável - uma lição de sabedoria e de verdade, intitulada A BOA NOVA:

Quando a Estrela de Belém
anunciou a Boa Nova
os Reis Magos vieram do Oriente
carregados de ouro
incenso e mirra
prostar-se ante o Menino Jesus.
Mais depois eles vieram
Heródes e Caifás
Judas e Pilatos
- a crueldade e intolerância,
a traição e o calvário.

A verdade está em que os homens criaram uma sociedade injusta e perversa, dividida em esbanjadores e famintos. Repudiam-se as lições do Menino-Deus. Há os que afrontam os maltrapilhos, os que matam para o sustento de ambições malditas, os que extinguem vidas para que os lucros se tornem partes em nome de irresponsabilidade. Neste mês de dezembro, houve no Recife um casamento em que se dissiparam milhões de cruzados em futilidades, em enfeitações, em trajes com rabo de dez metros de comprimento, em comes e bebes sobejantes, enquanto na capital pernambucana meninos esquálidos e famintos se alimentam de restos de comida das latas de lixo. Horas antes do ministério da gruta de Belém, a covardia, de tocaia, matou um líder que defendia os injustiçados e lutava pela preservação da natureza dadivosa. O dia 24 de dezembro representou a fartura na mesa dos ricos sem coração e a miséria do menino pobre, que nunca viu um brinquedo de Papai Noel. E muitos, coitados, pagaram com a vida o passeio de barco, de altas quantias, para as delícias de um trinta e um de dezembro no Rio, cidade de dramas de miséria e do crime dos miseráveis. Pobres vítimas da ganância e da irresponsabilidade.


A. Tito Filho, 26/01/1989, Jornal O Dia

Nenhum comentário:

Postar um comentário