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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

ELES AINDA VIVEM EM 1950

O sindicalismo brasileiro evoluiu muito pouco nestes últimos quarenta anos. Uma parte dele, no entanto, não evoluiu nada, parou no tempo. No campo político, então, revivi teses que a esquerda liderada pelo Partido Comunista, ao tempo em que só existia um Partido Comunista e a esquerda no Brasil estava claramente definida entre comunistas, trotkistas e socialistas, defendida no final da década de 40 e começo da década de 50. Tomem os estudiosos da política nacional os documentos do PCB daquela época e comparem-nos à Plataforma de Exigências dos Trabalhadores aprovada no V Congresso Estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT), realizado nos dias 6 e 9 de julho passado, em São Bernardo do Campo. São idênticos. As reinvidicações são as mesmas de há quarenta anos, com os mesmos equívocos político-sindicais.

Os sindicalistas da CUT aprovaram uma miscelânea, que nenhum partido político, nenhum governo de qualquer nação e menos ainda uma central sindical, poderá realizar, em tempo algum. Tomemos alguns exemplos:

a) - Não pagamento das dívidas externas e interna;

b) - Reforma agrária ampla e massiva sob o controle dos trabalhadores. Não explica se essa reforma agrária será feita aproveitando as terras devolutas do Estado, se assaltando a propriedade privada produtiva ou se invadindo os latifúndios improdutivos;

c) - Estabilidade no emprego que pode ser melhor defendida pelos proprios trabalhadores com a sua assiduidade ao trabalho e uma produção que force as leis do mercado a beneficiar a economia como um todo;

d) - Redução da jornada de trabalho sem redução salarial. Aqui, o documento da CUT agride as leis do mercado e ameaça a estabilidade no emprego;

e) - Redução das perdas salariais, o que poderá ser feito com ou sem inflação. Com inflação, utilizando-se um gatilho acelerador do seu índice; sem inflação, aceitando-se as medidas duras que hão de ser tomadas para detê-la;

f) - Reajustes mensais de salários, ou seja, a escolha está feita: redução das perdas salariais com inflação. E mais:

g) - Contra a privatização das empresas estatais. quer dizer, manutenção do Estado-empregador incompetente, Estado-cartorialista;

h) - Estatização do sistema financeiro, recentemente experimentada na França, no primeiro mandato de Mitterrand, e que não deu certo;

i) - Sistema de saúde e previdência social estatal único, gratuito, de boa qualidade, sob controle dos trabalhadores. Previdência social estatizada já existe, com resultados desastrosos. E ficaria pior, se controlada pelos dirigentes sindicais que disputam entre si as verbas do imposto sindical, que deveria ser extinto para que houvesse, de fato, liberdade e autonomia sindicais.

Os sindicalistas da CUT sem dúvida pararam no tempo. Deveriam olhar para a Polônia, ler a Perestroika, acompanhar o que se passa na URSS e dar um salto de quarenta anos no tempo brasileiro.

* Luiz Ferreira Lima é jornalista e diretor da Agência Planalto. Em 25/09/1989, Jornal O Dia

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