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sábado, 24 de setembro de 2011

BOM AMIGO

Todos conheciam em Teresina. Técnico competente e afamado. Veio da terra do nascimento, Portugal, antes da 1ª Grande Guerra, e fixou-se em Belém. Depois, contratado pelo Governo do Piauí, assistiu no interior piauiense, município de Oeiras, para montar máquinas de fabricação de laticínios. Por muito chão - Pará e Terra de Mafrense - gastou dez anos de vida, a partir de 1912, e escolheu a Chapada do Corisco, a cidade fundada por Saraiva, para em 1922, nestas bandas brasileiras, passar a residir, com oficina de funilaria, até viagem derradeira, no ano da graça de 1953 - a viagem sem bilhete de volta. Trinta e um anos de xodó e de amigação coma comunidadezinha simples e humilde, a que ele oferecia a constância de gestos de afeto, socorrendo os velhos com dinheiro e refeições.

Chamou-se Pedro Antônio Maria Fernandes, conforme o assento de cartório. Ao chegar ao Brasil, as autoridades viram a palavra Pedro entre parênteses no final do nome todo, e não quiseram que ali estivesse o antenome ou pronome. Não corrigiu o equívoco. E Pedro ficou como designativo de família.

Antônio Fernandes Pedro exercia a indústria e o comércio numa casa do centro de Teresina, esquina com o antigo Banco do Brasil, na rua Eliseu Martins, perto da praça Rio Branco. Era um prédio baixo, atijolado, bem limpo, em que o dono tinha também o teto agasalhador. Num dos lados, o que dava para a rua Barroso, havia a loja de venda dos objetos por ele fabricados - e aí se reuniam os comandantes intelectuais do meio, de manhã e de tarde - e como Antônio Pedro lhes apreciava a convivência diária, para o cafezinho e a boa prosa ilustrativa, alegre e folgazã. Esmaragdo de Freitas, Cromwell Carvalho, Mário Baptista, Higino Cunha, Celso Pinheiro, Martins Napoleão, Pedro Brito, Cristino Castelo Branco, Luiz Mendes ribeiro Gonçalves, Simplício Mendes, Benjamim Baptista, Álvaro Ferreira, Arimathéa Tito, Artur Passos e muitos outros - magistrados, médicos, poetas, historiadores, políticos, gente fina, fizesse sol ou deixasse de chover, não dispensavam o bate-papo com o funileiro, do modo que afetivamente era chamado o português de bom caráter e excelente camaradagem, de agudo senso intelectivo, trabalhador, alma feita de fraternidade.


A. Tito Filho, 27/02/1989, Jornal O Dia

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