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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SINDICATOS

Érico Veríssimo, um dos grandes ficcionistas da literatura, também se dedicou a um dos gêneros de difícil comunicação, a narrativa de viagens, em que nos deu deliciosos livros, como o sincero GATO PRETO EM CAMPO DE NEVE. Dele fizemos leitura duas vezes e muito lucramos. O escritor gaúcho trabalhava na Embaixada do Brasil, junto ao governo norte-americano. Deliberou conhecer o país de Tio Sam e percorreu-o pelos principais recantos curiosos e encantadores. Descreveu paisagens urbanas e do interior, fielmente. Contou episódios dados e passados nessas andanças muitas. Visitou o oeste. Viu a Califórnia e as atrações desse rico trecho norte-americano, abocanhado do México. esteve em Los Angeles e não pôde deixar de ver a capital do cinema, na época de 1940, a famosa Hollywood, bairro elegante da cidade referida, onde visitou os estúdios da produtora de filmes conhecida internacionalmente, a Metro Goldwin Mayer, de tantos filmes inesquecíveis. Aí presenciou cena interessante: vinte e cinco operários no trabalho árduo de eletricidade, enquanto vinte e cinco outros descansavam, bem refestelados em cômodas poltronas. O escritor patrício indagou do funcionário que o acompanhava o motivo da circunstância, pois enquanto uns se davam ao serviço, outros se entregavam à mais íntegra ociosidade. O moço acompanhante explicou-lhe que nos Estados Unidos só era possível obter trabalhadores por intermédio dos sindicatos de classe, que fornecia a quantidade pleiteada caso a empresa aceitasse empregar o dobro. Assim, o patrão, como no caso da Metro, dividia o trabalho em dois turnos: a metade no serviço e a outra no descanso. Depois, a recíproca.

Se houvesse consciência sindical do Brasil, a  situação do trabalhador seria diferente. Acontece que os nossos sindicatos só contam com os respectivos membros para gritar por aumentos e deflagrar movimentos grevistas.


A. Tito Filho, 24/02/1989, Jornal O Dia

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