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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

POLÍTICA

Faz anos desenvolvi atividades políticas. Julgava que o povo reconhecesse os meus serviços jornalísticos na defesa daquilo que me supunha como interesses públicos. Pelo menos me insurgi, ao lado de alguns amigos corajosos, contra a ditadura e a violência. Como suplente de deputado estadual cheguei a ser convocado para o exercício do mandato na vaga do titular licenciado. Participei da Assembléia Legislativa do Piauí, em 1984, uns dois ou três meses.

No Rio, em 1946, acompanhei, nas galerias do Palácio Tiradentes, os debates em torno da constituição que seria promulgada à 18 de setembro. Alguns deputados irmãos militava em partidos adversários. Recordo-me de João Mangabeira, um dos melhores demagogos deste país, nas hostes da União Democrática Nacional. Não só irmãos divergiam na filiação partidária. Verificavam-se divergências entre o sogro e o genro, o pai e o filho, entre cunhados e outros tipos de parentesco. No Piauí, Matias Olímpio e Raimundo Arêa Leão pertenceram a grêmios valentemente contrários, UDN e PSD Quem não se lembra de Petrônio Portella? Deputado na Assembléia Legislativa fazia graves acusações ao governador Pedro Freitas, pai da noiva e depois da esposa do acusador, Iracema Portella Nunes, mulher admirável.

A política guarda inúmeros exemplos em todos os Estados. Os homens das lutas partidárias, em que se punham e ainda se põem parentes contra parentes, tinham e têm razões nas atitudes adotadas. Não cabe que os censuremos. Cada qual conhece o local onde dói o calo.

Entre nós há um exemplo edificante. O jovem Paulo Silva elegeu-se deputado federal pelo PMDB, enquanto o pai, por idêntica agremiação, conquistava o cargo de governador. Bem poderia o parlamentar gozar as delícias do poder, e acompanhar com o voto as pretensões do presidente da República, concedendo-lhe, na Constituinte Nacional, cinco anos de mandato. Recusou-se. Deixou o PMDB e filiou-se no PSDB, partido que abriga um homem de prestígio moral da espécie de Mário Covas. No julgamento que os jornalistas do Congresso Nacional fizeram sobre a atuação dos deputados na Constituinte, Paulo Silva figura com a nota aproximada de Chagas Rodrigues, que mereceu dez.

Paulo Silva, jovem ainda, abdicou das facilidades que o pai, com justiça, poderia proporcionar-lhe, bem assim dos favores que pudessem obter nas esferas do Palácio do Planalto.

Idealista sobretudo. Merece respeito, como sério e consciente do que ele julga e pensa que deve ser o caminho de bem servir.


A. Tito Filho, 21/06/1989, Jornal O Dia

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