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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

POLÍCIA - III

Sinceramente que estou desconhecendo o meu Brasil. Era bom o Brasil. Tive uma infância alegre, risonha, banhando nas boas águas do Marataoã, no pedaço de território piauiense chamado Barras. A gente brincava de bola de meia, no beco de casa, e manhãzinha colhia creoli e coroa-de-frade pelas margens da riacharia. Minha adolescência se deu em Teresina, nos estudos, e no velho Marruás, nas férias. A mocidade se dividiu por Teresina, Fortaleza, Rio de Janeiro. Ditosos tempos. Namoros acolchoados na penumbra dos cinemas. Cinco anos na terra carioca, de noite eu gostava dos cabarés da Lapa e dos bares chiques de Copacabana. Por essas andanças e moradias nunca ouvi falar de assalto. Havia gatunagem. Crime só de vingança por causa de chifres, ou em bebedeiras nas biroscas das favelas. Em quase tudo, ordem, disciplina, camaradagem, gosto de viver. O Brasil atravessou ditadura e descambou nessa tal democracia que nunca foi ao menos imitação da dita cuja. Democracia supõe respeito, harmonia social, ausência de fome e de miséria, e da infame injustiça contra os pequenos. Não pode haver regime democrático onde impera o triste espetáculo dos marajás, das mulheres dos marajás, filhas e netos dos marajás, ao lado das esmolas pagas a milhares de pobres diabos, os barnabés ou funcionários públicos mendigos, ou operários obrigados a baixíssimo salário mínimo, cujo valor não permite a aquisição de meio quilo de carne por dia.

Alberto Silva sempre se mostrou sensível aos mais puros sentimentos de solidariedade humana. Não sou político nem sei bajular quem quer que seja. De longe conheço o atual governador do Piauí, homem leal a Deus e às criaturas criadas por Deus. E digo ao governante, apelando para a sua magistratura, que não pode o policial civil do Estado ganhar, senão com fome, os magríssimos vencimentos que vem recebendo. Quanto ganha um delegado? Menos de sessenta cruzados novos mensais ao que parece - justamente a autoridade sobre cujos ombros pesam a responsabilidade da segurança coletiva.

O Delegado Antônio de Melo Lima defende uma causa justa, decente, digna. Merece apoio da coletividade.


A. Tito Filho, 29/04/1989, Jornal O Dia

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