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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

AINDA A REPÚBLICA

Em 1986, o deputado piauiense Simplício Coelho de Resende esteve envolvido na célebre questão militar. Rocha Pombo descreve por este modo os episódios:

"Entre os militares letrados havia uma corrente decidida de antipatia ao governo. Sob essa inspiração hostil, o espírito de indisciplina preexistente poderia gerar acontecimentos de suma gravidade, se um fato qualquer, da economia do próprio Exército, pudesse ser pretexto para congregar grande número de oficiais e cabeças bastante audazes para ir até onde fosse preciso ir. Mal se poderia imaginar que a fiscalização de uma companhia isolada de infantaria, com sede no Piauí, fosse a causa inicial de tão profunda comoção. Quando fiscalizava essa companhia, o então coronel Cunha Matos verificou importantes extravios de fardamentos. De tudo deu logo parte ao governo; e baseado em documentos, propôs que fosse nomeado um conselho para reconhecer os responsáveis daqueles fatos, retirando-se do comando daquela unidade o capitão Pedro José de Lima, que neles parecia envolvido. Propôs ainda o coronel que o Conselho fosse composto de gente estranha à Província, para a política não intervir nos resultados. Quatro meses depois, chegou ao Rio uma queixa do capitão Lima contra o coronel, acusado de ter feito a inspeção rapidamente e deixando de denunciar correligionários seus, implicados nos fatos. Os papeis subiram ao ministro, que mandou submeter o capitão a conselho de guerra. Dias depois, ocupou-se desse assunto na Câmara o deputado Simplício Coelho de Resende, aconselhando o ministro a tomar precaução no caso. Disse ele textualmente que Alfredo Chaves, apesar de sua capacidade, era novo na gestão dos negócios da pasta e, portanto, precisava apalpá-los para não pôr o pé em terreno falso... Cunha Matos foi à Imprensa discutir o assunto e declarou não estar resolvido a levantar os insultos que da tribuna irresponsável lhe dirigiu o Sr. Deputado Coelho de Resende, naturalmente por ordem de seu constante companheiro de solo no Piauí. A alusão era ao capitão Lima. O deputado voltou a tribuna e atirou verdadeiras afrontas ao coronel dizendo que ele esteve a soldo do Paraguai, e que, prisioneiro de Lopes, dirigia a artilharia inimiga contra as tropas brasileiras".

Essa questão militar foi a causa próxima da República.


A. Tito Filho, 19/11/1989, Jornal O Dia

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