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domingo, 25 de setembro de 2011

NOVA CIVILIZAÇÃO

Quando cheguei ao rio, para estudos, nos anos 40, havia na cidade UM edifício alto, de vinte e dois andares. Chamava-se A NOITE e nele funcionavam duas empresas nacionais, responsáveis por um jornal, uma revista e uma rádio. O espigão constituía atração da antiga cidade maravilhosa. Nos dias de domingo, muitas pessoas faziam visitação ao terraço do prédio, nas alturas, para contemplação da paisagem. Pagava-se pequena taxa de ingresso. Na avenida Rio Branco viam-se edifício de três, quatro, seis andares, de feitio antigo. Célebre, o Palace Hotel, que vinha da primeira República, importante, hospedagem de políticos, sobretudo. Em Copacabana, de seis andares, o internacional Palace, hospedagem famosa de reis, artistas e milionários. Ruas e praças do aristocrático bairro eram mansões elegantes e confortáveis. A praia encantadora tinha chalés e mais chalés bonitos, habitações familiares de primeira classe, luxentas, convidativas. No máximo de dois pavimentos, o térreo e o superior. Não se via um só edifício de APARTAMENTO, em lugar algum da antiga capital do Brasil. Para a vitória dos rebeldes em 1930, com Getúlio Vargas à frente do movimento tenentista, vendeu-se o Brasil aos Estados Unidos. Iniciava-se de pouquinho, a civilização dos enlatados, dos salgadinhos, da roupa feita, bem assim dos APARTAMENTOS; nos quais nascem as crianças já prisioneiras dos pequenos espaços para o engatinhamento e crescem de bundinhas feridas nas quinas dos móveis espremidos em salas reduzidas. Civilização do APARTAMENTO, ou APERTAMENTO, como lhe chamou humorista nacional. Quem não se lembra da marchinha publicitária dos remados fins da década de 30? Era assim:

   Se você fosse sincera,
   Ò... Ò... Ò... Ò... Aurora,
   Veja só que bom que era
   Ò... Ò... Ò... Ò... Aurora...
   Um lindo apartamento,
Com porteiro e elevador
E ar refrigerado para os dias de calor,
   Madame antes do nome,
   Você teria agora,
Ò... Ò... Ò... Ò... Aurora...

E em Teresina? Que dizer dos nossos apartamentos? Chegaremos cá, na próxima lição.

A. Tito Filho, 26/09/1989, Jornal O Dia 

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