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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

OFÉLIO LEITÃO - III

A 31 de janeiro de 1951 José de Rocha Furtado transmitiu o governo do Piauí a Pedro de Almendra Freitas. O jornalista Ofélia Leitão deixou a Procuradoria Geral da Justiça. No Rio, no mesmo dia, Getúlio Vargas assumiu a Presidência da República, pela primeira vez eleito diretamente. Dentro em pouco tempo o deputado José Cândido Ferraz alcançava as boas graças do presidente, e facilmente conseguiu nomear Ofélio para o cobiçado cargo de advogado do Banco do Brasil. Nesse tempo eu me dedicava de corpo e alma ao magistério nos colégios de Teresina e assim passei a participar de outras convivências. Perdi de vista o antigo e bom companheiro. Alegrei-me quando li a sua nomeação para a chefia do gabinete civil do governador Tibério Nunes, substituído de Chagas Rodrigues, que havia renunciado para que pudesse candidatar-se a novo cargo eletivo, depois de um excelente período administrativo, voltado para os humildes.

Ofélio Leitão deixou as elevados funções a 31 de janeiro de 1963, quando Petrônio Portella assumiu a governança. Soube de Ofélio em Parnaíba, no exercício do cargo bancário, a que ele emprestava capacidade e decoro. Depois me disseram do seu regresso a Teresina, para trabalhar no Banco do Brasil da capital.

Ainda com o prédio em decadência, sempre, uma vez e outra, freqüento o clube dos Diários para palestração com antigos companheiros de folia. Certa vez, tive ali a surpresa da presença de Ofélio, que desejava falar-me. Acanhado, semelhava desconhecer-me ou deslembrar-se dos tempos inesqueciveis de nossas noitadas nos modestos lupanares da Raimundinha Leite, da Gerusa e da Calu, com quengas apetitosas a nossa lado.

Pois bem. O velho amigo me procurou para saber como seria recebida a sua candidatura à vaga de Carlos Porto na Academia. Disse-lhe que a pretensão era legítima, pois o pretendente tinha amigável cultura humorística, escrevia com aprumo e correção, sabia a difícil disciplina jurídica, e sempre exercera jornalismo apoiado em segura argumentação. Demais de tudo, possuía admiradores entre os acadêmicos. Defendeu a candidatura com altivez e persistente trabalho. Conquistou a cadeira acadêmica com justíssima votação. De 1981, data da posse a esta parte, cumpriu os deveres que a honraria lhe impunha. Jamais recusou encargos. Antes deu conta deles, dedicado e capaz. A 30 de maio de 1989 o segredo da morte levou o bom amigo. Sem a sua presença alegre, esvaziou-se de um nobre companheiro, idealista, generoso, a Casa de Lucídio Freitas.

A vida só presta bem vivida, vivida com gosto, a gente fazendo o que quer, depois de rigorosamente praticar o QUE DEVE. Vida com sabedoria, assim como a de Ofélio: primeiro a obrigação, depois a vadiação. Servidor da pátria. Jamais esqueceu a família, sempre solícito em servi-la até o sacrifício. Imenso nas amizades. Honesto e decente.


A. Tito Filho, 20/06/1989, Jornal O Dia

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