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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

VERDADE - III

O Theatro 4 de Setembro representa a alma de Teresina dos velhos tempos. Quantos e quão inesquecíveis episódios espirituais nele se passaram. Peças teatrais, convenções políticas, exposições, discursos cívicos e literários, banquetes, bailes, ilusionismo, luta de box, circo, música e canto. Quantos namoros começaram no decorrer das suas noites saudosas e terminaram em casamento? Daí a razão seguinte: o querido Teatro não pertence a ninguém, constitui, antes de tudo, patrimônio dos teresinenses, e merece assim que seja respeitada a memória dos que por ele trabalharam, desde os alicerces, nos tempos do apogeu e nos instantes da decadência.

Na época dos seus piores dias, o Teatro teve em Alberto Silva o grande amigo, que o recuperou e lhe deu a compostura do conforto, prevendo o governante que dele se irradiariam novos espetáculos culturais. No meu modo de entender, houve em tudo um erro desmedido, quando não se reproduziram as áreas laterais arborizadas concebidas e executadas na época da construção.

Teresina de certos anos até agora, está sendo ferida, assassinada, tristemente insultada na sua memória e nas recordações de sua beleza. O progresso? Sim. Já existem pistoleiros, liquida-se em nome do dinheiro, a tranqüilidade das margens do Poti, um rio do povo cujas margens se entregaram a milionários e empresas de ganhos incalculáveis. Morre o Parnaíba, sujo poluído, desprezado. Verifica-se um toque de irresponsabilidade dos ricos frente à miséria que campeia por todos os lugares.

E o Teatro? A pracinha onde se situa corresponde a um passado de tranqüilidade, fraterno, pleno de bem-querer à vida. Chamou-se Aquibadã, depois João Pessoa, finalmente Pedro II. O 4 de Setembro deve chorar de vergonha, por intermédio da memória dos que encantaram os seus dias e espetáculos, - o assombroso ambiente de venda de revistas velhas sebentas, os botecos sem higiene, o homossexualismo desbragado, o meretrício e permanente a falta de poder, a cachaçada diária sob arrendamento oficial, ao lado do Teatro respeitável.

E dizer que nossa paisagem de pecados e fealdades morais se comemorou o centenário do 4 de Setembro. E a memória dos mortos?


A. Tito Filho, 14/07/1989, Jornal O Dia

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