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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

OFÉLIO - I

Quando regressei do Rio de Janeiro para Teresina, nos idos de 1947, encontrei Ofélio Leitão no auge da fama de jornalista. Ao lado de Eurípedes Aguiar, Simplício Mendes, Esmaragdo de Freitas, Arimathéa Tito e Júlio Vieira, tinha participado, em 1945, de severa luta contra o regime ditatorial brasileiro, chefiado, na presidência da República, por Getúlio Vargas, e na interventoria piauiense por Leônidas Melo. Em outubro desse ano caiu o ditador, no Rio, e poucos dias depois baqueou também o governante da terra. A 2 de dezembro, porém, Eduardo Gomes, candidato da União Brasileira de Eurico Gaspar Dutra. Batalha perdida para os combativos homens de imprensa que empolgavam o Piauí. Os lutadores não esmoreceram a fim de que não desmerecessem da confiança pública. Tornaram-se mais decididos e já agora contra os interventores nomeados por Dutra. Combate duro, permanente, na mesma trincheira, o jornal "O Piauí", do comandante Helvécio Coelho Rodrigues. Corria 1946. Em outubro, o valente órgão de imprensa, situado na rua Coelho Rodrigues, foi assaltado e empastelado. Os assaltantes mataram o vigia Miguel Pedro, humilde homem do povo, porque o pobre caboclo reagiu ao assalto covarde de madrugada. Estudante no Rio, eu recebia as edições e de vez em quando nelas topava com vibrantes artigos de Ofélio, numa linguagem limpa, asseada, elegante, mas cáustica, acerba, grave. O grande jornalista conhecia muito bem o português e teve intimidade com admiráveis obras de escritores célebres. Várias ocasiões os adversários o ameaçaram de violência física, de modo inútil, pois ele não arredava pé do batente sagrado, a sua banca na redação.

Na eleição de 1947 para governador se elegeu Rocha Furtado, cidadão de impecável vida pública. A vitória muito se deveu aos corajosos jornalistas de "O Piauí".

Quando retornei do Rio à casa paterna, janeiro de 1947, os piauienses haviam votado e selaram o triunfo da operação. Aguardava-se a posse do eleito, José da Rocha Furtado, que se deu a 28 de abril. Por essa época, comecei a manter boas relações de amizade com Ofélio. Depois eu conto.


A. Tito Filho, 13/06/1989, Jornal O Dia

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