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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

LICEU - III

Nunca me esqueci do Liceu dessa época já distante, do Liceu dos adolescentes e dos jovens de famílias prestigiosas, de influência social, política e de dinheiro, ao qual gente humilde não tinha acesso, salvo por exceção. Dali guardo os meus melhores instantes de coleguismo, de amizade que tem varado anos. Os meus colegas de turma foram vitoriosos na vida, com Justiça. Entre os trinta e tantos, aí estão alguns, como Tasso Rego (Ministério Público), José Lopes da Cunha (crítico literário e jornalista), Raimundo Monte Santos (bancário), José Beleza (bancário), Wilson Brandão (mestre universitário, deputado estadual), João de Deus Fonseca Filho (industrial), e quanto mais, inclusive as garotas virtuosas, que quase todas se casaram. Fui contemporâneo de líderes estudantis que seriam famosos no futuro, como Carlos Castelo Branco, Abdias Silva, Vilmar Soares, Santos Rocha, José Barbosa, Rosa Amélia Tajra e os falecidos Domingos Monteiro Filho, Alencar Vieira e Luís Costa - quantos meu Deus, que a memória de vez em quando invoca, em episódios inesquecíveis.

Nunca me saíram da cabeça as peraltices notáveis da estudantada. Os jornaizinhos de críticas e piadas. Os assaltos às bancas de vendedores de frutas no mercadão da Praça Deodoro. As suspensões rigorosas pelos chamados atos de indisciplina. O repúdio aos delatores, bem assim aos furadores de greves. A intransigente solidariedade entre os colegas. Os processos de pesca nos exames escritos.

O Liceu, como hoje, era de ensino misto - moças e rapazes. Pois ali nasceram os primeiros namoricos, de muito platonismo. Mas havia a turma dos devassos, os que, entre outras práticas, amarravam um pedaço de espelho no bico da botina e o colocava por baixo da saia da garota descuidada, nos instantes de recreação pelos corredores, intervalos das aulas. Pelo menos o sem-vergonha conseguia enxergar as calças internas da menina, umas calças que vinham até a metade da coxa e eram abotoadas de lado. Descoberta a sem-vergonhez, o tarado levava tapona da vítima e pegava severa suspensão.


A. Tito Filho, 09/08/1989, Jornal O Dia

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